Um estudo publicado pela Universidade Yale nesta terça-feira, 16, aponta que a Rússia mantém cerca de 210 instalações para “reeducar” crianças removidas da Ucrânia durante o conflito entre as nações vizinhas. O documento aponta que os locais são utilizados para doutrinar e até mesmo militarizar menores de idade.
Segundo o Laboratório de Pesquisa Humanitária da Escola de Saúde Pública de Yale, responsável pelo levantamento, instituições como mosteiros, acampamentos de verão, orfanatos, hospitais ortodoxos russos e colégios militares servem de abrigo para jovens ucranianos. A Ucrânia diz que 20 mil menores foram sequestrados por Moscou desde 2022.
As instalações se localizam em territórios que vão do Mar Negro ao Oceano Pacífico. Registros oficiais mostram que metade dos terrenos são administrados pelo governo russo. O levantamento de Yale encontrou evidências de reeducação em 62% dos locais e de treinamento militar, em 19%.
A extensão do programa secreto russo chamou a atenção por ser o dobro do esperado pelos especialistas. No entanto, não é nenhuma novidade. Em 2023, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra o presidente do país, Vladimir Putin, por deportar ilegalmente crianças da Ucrânia.
De acordo com o diretor-executivo do laboratório, Nathaniel Raymond, o esquema configura o maior sequestro em massa desde a transferência de crianças polonesas para a Alemanha pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Para além do sequestro dos infantes, o levantamento aponta que as ações de Moscou podem significar uma tentativa de “doutrinar” os jovens. Em muitos casos, órfãos ucranianos são educados na língua e na cultura russa, além de serem colocados em lares adotivos com famílias do país. O objetivo parece ser substituir os vínculos de infância com a Ucrânia.
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O relatório também aponta que crianças foram matriculadas em academias militares, onde receberam treinamento voltado à luta contra as próprias forças ucranianas. “Eles os pegam, os transformam em russos e depois os transformam em soldados”, diz Raymond.
As Convenções de Genebra determinam que qualquer recrutamento militar em territórios ocupados é ilegal, mas o Kremlin afirma que as regras não se aplicam nessa situação, uma vez que alega ter anexado o território ucraniano invadido.
Atualmente, a Rússia controla quase toda a região de Luhansk e parcelas significativas das províncias de Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson — além da península da Crimeia, tomada em 2014. No total, o território que representa cerca de 20% da Ucrânia detém uma população de 4 a 6 milhões de habitantes, muitos vistos como soldados em potencial pelo Kremlin.
