A Rússia reagiu nesta terça-feira, 15, com ceticismo e moderação ao ultimato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que ameaçou impor sanções ao país caso a guerra na Ucrânia não seja encerrada em cinquenta dias.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a fala de Trump “é séria e precisa de tempo para ser analisada”.
“As declarações do presidente dos EUA são muito sérias. Algumas delas são dirigidas pessoalmente ao presidente Putin”, afirmou, ao ser questionado por repórteres sobre o assunto. “Certamente precisamos de tempo para analisar o que foi dito em Washington. E se e quando o presidente (Vladimir) Putin considerar necessário, ele certamente comentará.”
Para ele, os “sinais dados em Bruxelas e Washington sinalizam a continuidade da guerra”, sugerindo que a Rússia estava pronta para continuar negociações diretas com a Ucrânia e ainda aguardava um sinal de Kiev sobre quando as tratativas poderiam ocorrer.
“As decisões que estão sendo tomadas em Washington, nos países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e diretamente em Bruxelas são percebidas pelo lado ucraniano não como um sinal de paz, mas como um sinal para continuar a guerra”, completou.
Em paralelo, o vice-chanceler russo, Serguei Riabkov, afirmou anteriormente que seu país sempre esteve pronta para negociar, mas que não o fará sob ameaças ou ultimatos. Ele é o principal negociador nuclear da Rússia, além de especialista em Estados Unidos.
Ultimato e armas para a Ucrânia
Em um novo ultimato, Trump reiterou insatisfação com a Rússia e disse que está pronto para implementar “tarifas severas” sobre Moscou caso não haja um acordo, em até 50 dias, para encerrar na guerra na Ucrânia. A fala foi feita durante encontro com o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, na Casa Branca, na segunda-feira 14.
“Uma das razões pelas quais vocês estão aqui hoje é para ouvirem que eu estou muito insatisfeito com a Rússia”, disse Trump, sugerindo que poderia impor taxas de até 100%, embora não tenha especificado quais produtos podem ser afetados. “Estamos muito insatisfeitos com eles e vamos aplicar tarifas muito severas se não chegarmos a um acordo em 50 dias”.
No encontro com Rutte, os líderes também formalizaram um novo fornecimento de armas à Ucrânia, incluindo baterias de defesa antimísseis Patriot mais avançadas, custeadas por Estados-membros da principal aliança militar ocidental.
O anúncio foi um indício da deterioração das relações entre Trump e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de quem tinha se aproximado desde o retorno à Casa Branca, em 20 de janeiro. No domingo, 13, o republicano renovou as críticas ao chefe do Kremlin e disse que enviaria “Patriots, dos quais eles (Ucrânia) precisam desesperadamente, porque Putin realmente surpreendeu muita gente”.
“Ele fala bonito e depois bombardeia todo mundo à noite. Mas há um probleminha aí. Eu não gosto disso”, afirmou ele a repórteres na Base Conjunta Andrews, perto de Washington.
O presidente americano, que afirmou querer ser lembrado como um pacificador, disse posteriormente à emissora britânica BBC, referindo-se a Putin: “Estou decepcionado com ele, mas ainda não desisti dele. Mas estou decepcionado com ele.”
Em paralelo às declarações de Trump, Rutte tem coordenado a compra o envio de armas americanas por outros países da Otan à Ucrânia — muito em razão das sinalizações do republicano de que não estava disposto a oferecer uma ajuda direta a Kiev. Ele ainda não bloqueou o pacote de ajuda autorizado pelo Congresso no governo do ex-presidente Joe Biden. Espera-se que o dinheiro acabe até o fim de setembro.