Rússia não apresentou “nenhuma evidência plausível” para sustentar a acusação de que a Ucrânia teria realizado um ataque com drones contra uma das residências oficiais do presidente Vladimir Putin, na região russa de Novgorod. A afirmação é do chanceler ucraniano, Andrii Sybiha, que classificou a narrativa de Moscou como uma tentativa de justificar novos ataques e minar as negociações de paz em curso.
Segundo Sybiha, a acusação segue um padrão recorrente do Kremlin de imputar a terceiros ações que, na visão de Kiev, a própria Rússia planeja executar. Em publicação nas redes sociais, o ministro também criticou reações de Emirados Árabes Unidos, Índia e Paquistão, que expressaram preocupação com um ataque “que nunca aconteceu”, enquanto não se pronunciaram quando um míssil russo atingiu um prédio do governo ucraniano em setembro deste ano.
A versão russa foi apresentada publicamente pelo chanceler Serguei Lavrov, que disse que defesas aéreas do país teriam abatido 91 drones de longo alcance lançados durante a madrugada contra a residência presidencial. Lavrov chamou a suposta ação de “terrorismo de Estado” e afirmou que “não ficaria sem resposta”, acrescentando que alvos para ataques retaliatórios já teriam sido definidos. Moscou, porém, não divulgou imagens, destroços nem relatou danos ou vítimas.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou nesta terça-feira (30) que o episódio levará a Rússia a endurecer sua posição nas negociações para o fim da guerra, que se aproxima de quatro anos. Questionado sobre provas materiais, disse que a questão caberia ao Ministério da Defesa. Peskov também se recusou a informar onde Putin estava no momento do suposto ataque.
A acusação surge em um momento sensível do tabuleiro diplomático. No domingo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reuniu-se por quase três horas com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Flórida, para discutir um plano revisado de 20 pontos para encerrar o conflito. Ambos afirmaram haver avanços, embora Trump tenha reconhecido entraves, sobretudo territoriais. Após o encontro, Trump disse que Kiev e Moscou estariam “mais perto do que nunca” de um acordo.
Trump reagiu com irritação às alegações russas. Disse ter sido informado por Putin e afirmou que um ataque à residência do líder russo “não seria o momento certo”, ainda que tenha admitido a possibilidade de o episódio não ter ocorrido. Assessores do Kremlin alegaram que o tema foi tratado em conversa direta entre os dois presidentes, descrita pela Casa Branca como “positiva”.
Em paralelo, líderes europeus intensificam articulações. O premiê da Polônia, Donald Tusk, anunciou conversas noturnas com outros chefes de governo e afirmou que o sucesso das negociações dependerá de uma declaração clara dos EUA sobre garantias de segurança à Ucrânia. Zelensky tem pressionado por compromissos “à la artigo 5º” da Otan, enquanto Trump descarta o envio de tropas e sinaliza preferência por monitores internacionais no pós-guerra.
Especialistas ouvidos por veículos como Reuters e Financial Times avaliam que a falta de evidências públicas enfraquece a narrativa russa e reforça suspeitas de uma operação informacional para ganhar vantagem nas negociações. Organizações internacionais também pedem cautela e transparência, alertando para o risco de escalada retórica comprometer um raro momento de avanço diplomático no conflito.