O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse nesta sexta-feira, 22, que ainda não há agenda definida para o encontro entre o presidente Vladimir Putin e seu homólogo da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. A declaração, dada em entrevista à emissora americana NBC News, acontece em meio a uma troca de farpas entre os dois lados da guerra, que se acusam de dificultar a realização da reunião pressionada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Putin está pronto para se reunir com Zelenskiy quando a agenda estiver pronta para uma cúpula. E essa agenda não está pronta de jeito nenhum”, afirmou ele à NBC, confirmando que ainda não há data ou local previstos para a cúpula.
Lavrov alegou que o governo russo demonstrou flexibilidade em questões apresentadas por Trump na bilateral há duas semanas no Alasca, que terminou sem avanços concretos. O ministro acusou, então, Kiev e os seus aliados europeus de serem intransigentes nas suas próprias demandas — Ucrânia e Europa exigem garantias de segurança apoiadas pelos EUA e não aceitam qualquer concessão territorial à Rússia.
“Ele (Trump) indicou claramente — ficou muito claro para todos — que há vários princípios que Washington acredita que devem ser aceitos, incluindo a não adesão da Ucrânia à Otan, incluindo a discussão de questões territoriais, e Zelenskiy disse não a tudo”, continuou. “Ele até disse não, como eu disse, ao cancelamento da legislação que proíbe o uso da língua russa. Como podemos nos encontrar com alguém que finge ser um líder?”
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Resposta de Zelensky
Frente às críticas, Zelensky afirmou que “os russos estão fazendo tudo o que podem para impedir que a reunião aconteça”, acrescentando: “Ao contrário da Rússia, a Ucrânia não tem medo de nenhum encontro com líderes”. Ele voltou a apelar por garantias de segurança e opinou que elas deveriam seguir a lógica do Artigo 5 da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que considera um ataque a um membro da aliança militar ocidental como um ataque contra todos.
O líder ucraniano pediu, ainda, para que a pressão sobre Moscou aumente para que “pelo menos uma posição minimamente produtiva” seja adotada pelos russos. Zelensky disse que “este é o começo de uma grande empreitada, e não é fácil, porque as garantias consistem no que nossos parceiros podem dar à Ucrânia, bem como em como o exército ucraniano deve ser e onde podemos encontrar oportunidades para o exército manter sua força”.
Nem Zelensky, nem Putin parecem dispostos a flexibilizar as reivindicações. A Rússia exige que a Ucrânia ceda 20% do seu território, incluindo as regiões de Luhansk e Donetsk, abandone a pretensão de aderir à Otan, principal aliança militar ocidental. Além disso, Putin quer que a Ucrânia se desmilitarize, uma ideia rejeitada por Zelensky, que insiste em “um forte exército ucraniano” como uma exigência imutável. O líder ucraniano também nega abrir mão de parte do país e defende o princípio da soberania, sendo apoiado por aliados europeus.