Sete imigrantes deportados dos Estados Unidos desembarcaram em Ruanda nesta quinta-feira, 28. A movimentação é consequência de um controverso acordo firmado entre Washington e Kigali para que o país africano receba pessoas expulsas do território americano.
“O primeiro grupo de sete imigrantes chegou a Ruanda em meados de agosto. Três dos indivíduos expressaram o desejo de retornar aos seus países de origem, enquanto quatro desejam ficar e construir vidas em Ruanda”, afirmou o porta-voz do governo, Yolande Makolo. Nenhuma informação sobre a nacionalidade dos imigrantes foi divulgada.
Makolo disse que os recém-chegados serão “acomodados por uma organização internacional”, e receberão visitas de serviços sociais locais e da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Essa é a primeira leva de um total previsto de 250 deportados que devem vir dos Estados Unidos em decorrência do acordo firmado no início de agosto.
Na época da aprovação, o governo de Ruanda afirmou que concordou com a medida porque “quase todas as famílias ruandesas passaram pelas dificuldades do deslocamento”, e garantiu o acesso à saúde e acomodação para os deportados.
Em 2022, Kigali havia assinado um lucrativo acordo com o Reino Unido para aceitar imigrantes oriundos da Grã-Bretanha. No entanto, a ascensão ao poder do Partido Trabalhista fez com que o acordo fosse descartado no ano passado.
Apesar de especialistas em direitos humanos apontarem que as deportações podem ser configuradas como violações às leis internacionais, o governo de Donald Trump afirma que as medidas são necessárias, já que muitas vezes as nações de origem se recusam a aceitar os deportados.
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Interesses de Kigali
Um dos países mais estáveis da África, Ruanda é uma pequena nação da África Oriental às margens do Lago Kivu. Com aproximadamente 14 milhões de habitantes, o estado tem uma das infraestruturas mais modernas da região, embora o governo do presidente Paul Kagame receba acusações de violações aos direitos humanos.
No início deste ano, Kigali deu suporte aos ataques da milícia rebelde M23 na República Democrática do Congo, resultando na perda de controle de Kinshasa em áreas ao leste do país, próximo à fronteira com Ruanda. Há negociações de paz acontecendo nesse momento, e para muitos, a prestatividade do regime de Kagame em aceitar imigrantes expulsos dos Estados Unidos pode ser um trunfo.
“Aceitar esses deportados dá a Ruanda uma vantagem nas negociações de paz em andamento sobre o conflito”, disse um ativista ruandês em anonimato ao jornal britânico The Guardian.