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Rock in Rio: como festival virou laboratório de dados

Por décadas, o Rock in Rio foi visto sobretudo como um espetáculo de proporções tropicais, se tornando símbolo do capitalismo cultural brasileiro. Mas, nos últimos anos, a empresa por trás do evento, a Rock World, passou por uma mudança de visão sobre o negócio. Sob comando de Luis Justo, seu CEO, o grupo descobriu que não opera apenas festivais: administra um ativo cada vez mais precioso: dados.

Desde sua expansão recente, que incluiu edições do Rock in Rio, The Town e Lollapalooza, mais de 14 milhões de pessoas cruzaram fisicamente os portões dos eventos da empresa. Ao redor desses números cresce uma economia própria, capaz de gerar mais de 380 mil empregos, formais e temporários. Mas o que mais chama atenção,especialmente para marcas, investidores e reguladores, é algo que não aparece no som dos decibéis, e sim nos servidores: o big data do entretenimento.

A Rock World entendeu algo que muitos conglomerados culturais ainda procuram internalizar: em economia digital, ausência é má estratégia. Se o espetáculo se limita a alguns dias de evento, o valor capturado se comprime. Se se estende ao longo de 365 dias, ele se multiplica.

Por isso, a empresa passou a operar como um estúdio de mídia de médio porte, produzindo minisséries, webséries, documentários, realities curtos, podcasts e campanhas sociais que circulam continuamente. Essa estratégia se intensifica em parceria com plataformas como o TikTok, onde conteúdos vinculados à marca ultrapassaram 250 milhões de impressões, um indicador que reposiciona a empresa para além do turismo de eventos. O festival se torna franquia, e a franquia se torna narrativa.

A maioria opera festivais como produtos anuais, não como ecossistemas permanentes. A Rock World, ao contrário, captura o fluxo completo: antes, durante e depois. E ao integrar seus dados com os de marcas parceiras, cria um modelo que se aproxima mais de uma big tech cultural do que de um produtor de shows.

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Em mercados maduros, empresas como a Live Nation vêm perseguindo estratégias semelhantes, mas poucas alcançaram a escala e a granularidade comportamental de um país de 200 milhões de habitantes, com a heterogeneidade do público brasileiro.

Essa infraestrutura permite intervenções quase cirúrgicas: desde melhorias em fluxo de pessoas a personalização de experiências, passando por análises que ajudam marcas a decidir desde a cor de uma campanha até o tipo de artista mais eficaz para uma ativação.

O conteúdo produzido pela empresa não se limita a criar produtos que prolongam o vínculo com o público ao longo do ano. Ele serve também para transformar a vastidão de dados captados em ferramentas de influência positiva, capazes de mobilizar audiências em torno de soluções sustentáveis. A Rock World já utiliza essa inteligência para orientar campanhas ambientais, incentivar práticas de reciclagem e mapear, com precisão inédita, quais causas realmente engajam o público jovem. Em um cenário marcado por greenwashing e slogans vazios, essa interseção entre emoção, cultura pop e ciência de dados se torna uma vantagem competitiva rara, e difícil de replicar.

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