Quase um ano depois do início do ciclo de alta dos juros no Brasil, iniciado em setembro de 2024, as sucessivas revisões das expectativas de inflação indicam que os efeitos da política monetária restritiva já começaram a aparecer na economia, na visão de especialistas
A pesquisa semanal do Banco Central com os agentes do mercado financeiro traz há 13 semanas seguidas revisões para baixo da inflação. Nesta segunda-feira, a versão mais recente do Boletim Focus mostra que a mediana das projeções para o IPCA está em 4,86%, chegando perto do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para a inflação. O centro da meta é 3%, com margem de tolerância até 4,5%. Há um mês o mercado estimava que o índice oficial de inflação do Brasil encerraria o ano a 5,09%.
Nos últimos 12 meses, a inflação avançou 5,32%, e o com perda de ritmo mais recentemente. Vilã dos preços no começo do ano, a inflação dos alimentos vem cedendo, o que também traz um alívio para o governo. Em julho o grupo de alimentos registrou a primeira deflação. No mês, a inflação oficial do Brasil foi de 0,26%, ligeiramente acima de junho (0,24%). Segundo o IBGE, o IPCA foi em grande parte influenciado pelo aumento da conta de luz, maior peso individual do índice.
“A gente também pode colocar nesse pacote da redução da inflação de alimentos, a questão do tarifaço porque tem parte de produtos agrícolas que estavam sendo exportados e não estão”, diz Hudson Bessa, especialista em mercado financeiro na Fipecafi. Ele chama atenção também para as expectativas do Boletim Focus para o crescimento da economia que vem caindo. “ A gente vai ter uma demanda mais fraca, resultado da política de juros do Banco Central que está bastante contracionista”, diz Bessa. No caso do Produto Interno Bruto (PIB), a previsão dos agentes do mercado financeiro para o crescimento para 2025 foi revista de 2,21% para 2,18%.
Também especialista em mercado financeiro pela Fipecafi, Rogério Mauad, diz que o reajuste abre espaço para o Banco Central começar a cortar a taxa Selic. “ Os analistas do mercado estão considerando que talvez o início do ciclo de queda possa ser antecipado. A princípio talvez o mercado já acredite que no início de 2026 o Banco Central já consiga começar um ciclo de queda”, diz.
O especialista projeta que o Comitê de Política Monetária comece cortando 0,25 ponto percentual ou 0,5 ponto percentual no começo de 2026 justamente por conta das expectativas de inflação futura mais baixa. “A partir do ano que vem o Banco Central, se as expectativas de inflação se mantiverem baixas, vai encontrar um espaço para reduzir a taxa de juros também”, diz.