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Renováveis superam o carvão e se tornam maior fonte de eletricidade do mundo

Pela primeira vez na história, as fontes renováveis de energia ultrapassaram o carvão como principal fonte de geração elétrica do planeta.

O marco, registrado na primeira metade de 2025, foi confirmado por um levantamento da think tank internacional Ember, especializado em transição energética.

A expansão das usinas solares e eólicas foi tão acelerada que atendeu a todo o aumento da demanda global por eletricidade — e ainda provocou uma leve redução no uso de carvão e gás natural.

O estudo aponta, porém, que o avanço das renováveis esconde um cenário desigual: enquanto países em desenvolvimento, liderados por China e Índia, puxaram a transição, nações ricas como Estados Unidos e membros da União Europeia voltaram a depender mais de combustíveis fósseis.

Avanço desigual

O contraste entre os dois blocos deve se acentuar, segundo projeções da Agência Internacional de Energia (AIE).

Um relatório recente da entidade reduziu pela metade a estimativa de crescimento das fontes limpas nos Estados Unidos até o fim da década, reflexo das políticas da administração de Donald Trump, que têm favorecido o setor de petróleo e gás e revertido incentivos a energias limpas criados nos últimos anos.

Em 2024, o carvão ainda era a principal fonte individual de geração elétrica do planeta, posição que mantém há mais de meio século.

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Mesmo com a desaceleração no Ocidente, a China continua sendo o epicentro da transformação energética global: o país adicionou mais capacidade solar e eólica do que o restante do mundo somado.

Esse crescimento superou o aumento da demanda interna por eletricidade e permitiu uma queda de 2% no uso de combustíveis fósseis.

A Índia seguiu o mesmo caminho, ainda que em ritmo mais lento, reduzindo o uso de carvão e gás graças à expansão solar. Nos países desenvolvidos, porém, o cenário foi inverso.

Nos Estados Unidos, o aumento da demanda elétrica superou o crescimento das fontes limpas, ampliando a dependência de térmicas a gás e carvão.

Já na União Europeia, meses de ventos fracos e baixos níveis de reservatórios hidrelétricos forçaram o aumento da geração fóssil.

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O papel da China e o “boom solar” global

Enquanto o mundo discute tarifas e disputas comerciais, a China consolida uma hegemonia inédita no setor de tecnologias verdes.

Em agosto de 2025, as exportações chinesas de energia limpa, incluindo painéis solares, baterias e veículos elétricos, atingiram um recorde de US$ 20 bilhões. A venda de carros elétricos cresceu 26%, e a de baterias, 23%.

O resultado é que os produtos de mobilidade elétrica e armazenamento energético já superam, em valor, o total exportado em painéis solares.

“A China é hoje o motor da transição energética mundial”, resume o analista Adair Turner, presidente da Comissão de Transições Energéticas do Reino Unido.

O levantamento da Ember destaca que a energia solar respondeu por 83% de todo o crescimento da eletricidade global no período. Ela é, pelo terceiro ano consecutivo, a maior fonte de nova geração no mundo.

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E a mudança tem um aspecto social relevante: 58% da geração solar global já ocorre em países de baixa renda, impulsionada por reduções drásticas de custo: o preço dos painéis solares caiu 99,9% desde 1975.

Países como Paquistão e Nigéria vivem uma verdadeira explosão solar. Só o Paquistão importou, em 2024, painéis capazes de gerar 17 gigawatts (GW), o equivalente a um terço da capacidade elétrica total do país.

Na África, as importações de painéis subiram 60% em um ano, com destaque para a África do Sul, líder regional, e a Nigéria, que ultrapassou o Egito e já possui 1,7 GW de capacidade instalada, energia suficiente para abastecer 1,8 milhão de residências europeias.

Desafios da transição energética

Apesar do avanço histórico, o relatório adverte que a transição energética global está longe de ser linear.

O acesso desigual a financiamento, tecnologia e infraestrutura cria uma divisão entre o “cinturão solar” (países de clima quente e alta radiação) e o “cinturão dos ventos” (regiões frias e temperadas).

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Nos países tropicais e semiáridos da Ásia, África e América Latina, o potencial solar é abundante e o retorno econômico imediato: a energia solar, combinada a baterias cada vez mais baratas, permite atender picos de consumo diurno, sobretudo para refrigeração e ar-condicionado, reduzindo custos e emissões rapidamente.

Já nos países de clima temperado, o desafio é outro. O custo das turbinas eólicas caiu bem menos do que o da energia solar, cerca de um terço na última década, e o aumento das taxas de juros encareceu a instalação de novos parques.

Além disso, a intermitência dos ventos e longos períodos de calmaria no inverno exigem fontes de reserva, o que eleva os custos e a complexidade do sistema elétrico.

Há também consequências inesperadas da expansão solar. No Afeganistão, o uso crescente de bombas d’água movidas a energia solar vem reduzindo o lençol freático em várias regiões, ameaçando o abastecimento de comunidades rurais.

Um estudo do pesquisador David Mansfield, com dados de satélite da empresa Alcis, alerta que algumas áreas podem secar completamente em menos de dez anos.

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Um ponto de virada

Mesmo com esses desafios, a Ember classifica o momento como um “ponto de inflexão crucial”. “Este é o início de uma nova era, em que a energia limpa começa a acompanhar o ritmo de crescimento da demanda global”, afirmou Malgorzata Wiatros-Motyka, analista sênior da organização.

A transição, porém, ainda é assimétrica. Enquanto a China exporta tecnologias verdes em escala recorde, os Estados Unidos priorizam aumentar as vendas de petróleo e gás.

O contraste evidencia o desafio político e econômico da descarbonização: o mundo acelera rumo a um futuro mais limpo, mas em velocidades muito diferentes.

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