A Igreja Anglicana nomeou nesta sexta-feira, 3, a bispa Sarah Mullally como arcebispa de Canterbury. É a primeira vez que uma mulher é nomeada líder da denominação de 85 milhões de fiéis nos 1.400 anos de história do cargo.
Mullally sucede Justin Welby, que renunciou ao cargo em novembro passado após a publicação de um relatório que o acusou de negligência perante uma investigação sobre alegações de abuso sexual de meninos em acampamentos de verão cristãos. O episódio teria ocorrido décadas atrás.
A bispa de 63 anos é ex-enfermeira oncologista, que atuou como chefe de enfermagem da Inglaterra. Ela é casada, mãe de dois filhos e passou mais de 35 anos no NHS (o SUS britânico) antes de se enveredar pelo caminho da religião.
Sua ascensão foi rápida: Mullaney atuou como tesoureira canônica na Catedral de Salisbury em 2012, antes de se tornar bispa de Crediton na diocese de Exeter três anos depois. Em 2018, foi a primeira mulher alçada ao bispado de Londres. Lá, era vista como alguém que usava sua experiência como administradora do NHS para ajudar a modernizar a diocese.
Uma das áreas sobre as quais mais se manifestou é a morte assistida (ou eutanásia) – ela é uma oponente ferrenha, assim como seu antecessor. Nos demais campos, mantém uma postura progressista, sendo defensora ativa dos direitos das mulheres na Igreja Anglicana e tendo descrito a decisão de que padres anglicanos abençoem casais gays, tomada em 2023, como “um momento de esperança para a igreja”.
A nomeação de uma mulher à cadeira de Canterbury não foi uma surpresa completa; a lista de candidatos incluía duas outras bispas. Mas isso deve abrir uma nova era para a igreja, potencialmente semeando tensões dentro da extensa Comunhão Anglicana, partes da qual são mais conservadoras.
Em seu primeiro discurso no cargo, na Catedral de Canterbury, Mullally agradeceu às mulheres que a precederam na história do anglicanismo. Ela também defendeu que a igreja pode oferecer uma esperança “mais silenciosa, porém forte” em meio a uma “era que anseia por certeza e tribalismo”. Também reconheceu que “não será fácil” lidar com o “abuso de poder” dentro da instituição, mas argumentou que já começou a presenciar uma “mudança cultural”.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, afirmou que deseja “todo o sucesso” a Mullally, enquanto o rei Charles III, ainda oficialmente o mais alto chefe da Igreja Anglicana, parabenizou a nova arcebispa.