Se o tapete vermelho do Gotham Awards é mais contido, o Fashion Awards permite ousar — e assim foi. Na noite em que Londres acendeu sua moda mais ousada, eis que os recortes estratégicos assumiram o papel de protagonistas – mais até do que fendas e decotes, como se cada pedaço de pele à mostra escrevessem uma narrativa visual baseada em segredos revelados nos corpos apresentados quase como mapas a serem decifrados e descobertos. Mas se o corpo é mapa, quem decide as fronteiras?
Elas. No evento, o mais importante da moda britânica, que todo ano inaugura dezembro com festa e fantasia, desta vez pareceu moldado pela ideia de que mostrar é também dizer. Nos últimos desfiles, essa estratégia já vinha ganhando força: LaQuan Smith e Jil Sander levaram o cutout ao limite da escultura; enquanto McQueen e PatBo exploraram aberturas assimétricas que deslocam o olhar para zonas inesperadas do corpo. O Fashion Awards apenas consolidou o capítulo.
Maura Higgins abriu o caminho apostando na estética underwear-as-outerwear: sutiã branco estruturado, saia pinstripe escultural e chapéu de abas largas de Robert Wun — um manifesto de que a pele pode ser o melhor acessório. Alex Consani reforçou essa dramaturgia em um McQueen sob medida, com recortes e estampa de caveiras vermelhas, dando a ideia de um corpo que encara sua própria intensidade.
Emily Ratajkowski reinventou o pretinho básico com a precisão de quem entende que o “menos” pode ser muito mais quando a arquitetura do tecido traça curvas com intenção em modelo que entrega a ainda inédita colaboração de Stella McCartney com a H&M. Leonie Hanne apostou no preto e branco com ossatura exposta no busto — um vestido que parecia desenhar, mais do que vestir. Rita Ora, em Tom Ford por Haider Ackermann verão 2026, mergulhou no decote mais profundo de sua trajetória, num prata líquido que exigia coragem e controle.
Já Amanda Holden brincou de esconde-esconde traseiro com humor e sensualidade elegante. Leomie Anderson, por sua vez, apostou em um modelo esqueleto de corset, transparência total e corpo como manifesto.
Profundos e estratégicos, esses moldes que deixam muita pele à mostra seguem marcando a celebração contemporânea do corpo. Reduzir tecido sempre foi gesto ancestral de sensualidade, mas agora o jogo do mostra-esconde carrega outra camada: a libertação. Celebridades já vinham ultrapassando limites antes mesmo do aval das passarelas, revelando partes não óbvias, incendiando debates nas redes e, principalmente, reafirmando que o vestir é um direito de autoria sobre si mesma e em plena consciência de que cada recorte é uma porta aberta para o olhar, para a discussão, mas também para a autonomia.
Veja os looks:






