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Quem são os candidatos que derrubaram a hegemonia da esquerda na Bolívia

A eleição presidencial da Bolívia terá um segundo turno pela primeira vez na história, com dois candidatos de direita nas cédulas. Este foi o resultado do primeiro turno do pleito, no domingo 17, marcando o fim de quase duas décadas anos de domínio do esquerdista Movimento ao Socialismo (MAS) na política do país.

As pesquisas já indicavam que a disputa iria nessa direção, mas o candidato mais votado acabou sendo uma surpresa: o senador de centro-direita Rodrigo Paz Pereira (Comunidade Cidadã), 57, que havia iniciado a campanha com apenas 3% das intenções de voto. Em segundo lugar, mais condizente com levantamentos eleitorais, ficou Jorge “Tuto” Quiroga (Liberdade e Democracia), 65, o ex-presidente de direita que liderou o país brevemente em 2001, após a renúncia do ditador Hugo Banzer.

Rodrigo Paz

Candidato mais votado no primeiro turno, com 32,2% dos votos, Rodrigo Paz é oriundo de Tarija, província no sul da Bolívia, onde fez carreira política. Ele promete um modelo econômico “50-50”, onde a administração de fundos públicos é dividida pela metade entre o governo federal e as autoridades regionais.

Focando na descentralização do governo e na modernização da economia, ele defende que empresas estatais não lucrativas devem ser fechadas e que um fundo de estabilização monetária que incorpore ativos de criptomoedas deve ser criado, como uma proteção contra a inflação no país.

Rodrigo Paz é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, e é um político de carreira, tendo sido deputado por Tarija e prefeito da capital da província. Após surpreender no primeiro turno — as pesquisas o projetavam como terceiro mais votado –, ele já conta com o apoio de Samuel Doria Medina (Unidade Nacional), 3º lugar nas eleições de domingo. 

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Jorge Quiroga

Segundo lugar nas eleições, com 26,8% dos votos, o conservador Jorge “Tuto” Quiroga tenta voltar a ser o presidente da Bolívia, cargo que ocupou brevemente entre 2001 e 2002. Entusiasta declarado das políticas econômicas do presidente da Argentina, Javier Milei, Quiroga defende uma “mudança radical” no país.

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Prometendo cortes profundos nos gastos públicos e reforma judicial, ele afirma buscar reverter “20 anos perdidos” durante os governos do partido Movimento ao Socialismo (MAS). Além disso, o candidato declarou ter intenção de restabelecer as relações com Israel e estreitar relações com os Estados Unidos.

Quiroga trabalhou como consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e foi vice-presidente do ex-ditador Hugo Banzer, no final da década de 90. Ele foi presidente por dois anos, após Banzer se afastar por questões de saúde, mas nunca retornou ao cargo ao final de seu mandato, apesar de tentativas em 2005 e 2015.

Próximos passos

O tribunal eleitoral enfatizou que os números são “preliminares e não definitivos”. Isso porque a Bolívia utiliza duas apurações: uma mais rápida, baseada em fotos de cada cédula enviadas a um centro de processamento de dados, e a mais lenta, definitiva, em que cada voto é contado publicamente e examinado nas seções eleitorais antes de entrar no sistema. O tribunal tem até sete dias para divulgar os resultados oficiais.

Mais de 2.500 observadores nacionais e internacionais, de órgãos como a União Europeia e a Organização dos Estados Americanos (OEA), monitoraram a eleição e devem publicar seus relatórios preliminares nos próximos dias. Durante o dia do pleito, eles disseram que a votação ocorreu normalmente.

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Como nenhum dos dois candidatos na dianteira obteve mais de 50% dos votos, ou pelo menos 40% com uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado, um segundo turno será realizado em 19 de outubro.

Assim como no primeiro turno, espera-se que o segundo seja dominado pela crise econômica – a mais grave em quatro décadas –, marcada pela escassez de dólares, falta de combustível e inflação em alta.

O fantasma de Evo

O presidente Luis Arce, do MAS, extremamente impopular, optou por não concorrer à reeleição. Ao invés disso, endossou seu ministro do Interior, Castillo. Os pouco 3,2% dos votos que ele recebeu são irrisórios em comparação com os mais de 50% que garantiram no passado as vitórias de Arce e do ex-presidente Evo Morales direto no primeiro turno – mas suficiente para que o partido siga existindo, já que o mínimo é de 3%.

De acordo com a contagem preliminar, 19,4% dos votos foram nulos – muito acima da média histórica nas eleições bolivianas, que costuma ficar abaixo de 5%. Primeiro líder indígena da Bolívia, Morales passou as últimas semanas instando seus apoiadores a anularem o voto em protesto contra as decisões dos tribunais constitucionais e eleitorais que o impediram de concorrer a um quarto mandato.

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Rodríguez, antes visto como o herdeiro natural de Morales devido às suas raízes indígenas e liderança no sindicato dos cocaleiros, foi chamado de traidor por lançar sua própria candidatura. Ao votar em Entre Ríos — um reduto do ex-presidente perto de onde ele permanece escondido por ser alvo de um mandado de prisão, acusado de tráfico humano e de ter engravidado uma adolescente — o senador de 36 anos foi vaiado e apedrejado pelo que descreveu como “um pequeno grupo de extremistas identificados como apoiadores de Morales”.

Morales nega ter cometido qualquer crime e alega que o caso faz parte de um plano do governo atual, com quem rachou, para destruí-lo politicamente. O presidente Arce, que foi ministro da Fazenda de Morales antes de se tornar seu principal rival, votou em La Paz e disse que garantiria “uma transição absolutamente democrática” em novembro, quando o próximo presidente tomar posse.

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