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Quem é a amiga do filho de Lula que foi alvo de ação da Polícia Federal

Na quinta, 18, a Polícia Federal realizou nova fase da operação Sem Desconto, criada para apurar o escândalo dos roubos no INSS. Um dos alvos dos mandados de busca e apreensão foi Roberta Luchsinger. Segundo a PF, ela teria recebido 1,5 milhão de reais do empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”.

Roberta ficou conhecida ao prometer doar 500 000 reais a Lula quando ele teve os bens bloqueados na Lava-Jato, já disputou uma vaga de deputada pelo PT de São Paulo e não esconde a proximidade que tem com a família presidencial, particularmente com o filho mais velho do mandatário, Fábio Luís, o Lulinha.

A ação ocorreu dias depois de notícias que revelaram outro caso envolvendo os mesmos personagens. Nas últimas semanas, a cúpula da CPMI do INSS passou ouvir um executivo que conta detalhes de uma tentativa de negócio milionário feito junto ao Ministério da Saúde. Segundo ele, o “Careca do INSS” teria repassado por meio de lobistas 5 milhões de reais a Fábio Luís para que ele lhe abrisse portas no governo. Essa testemunha ainda não apresentou provas do negócio.

Lulinha teria recebido pagamentos por meio de Roberta Luchsinger e a publicitária Danielle Fonteles, ex-proprietária de uma empresa que foi investigada por lavagem de dinheiro na campanha da ex-­presidente Dilma Rousseff. Questionado por jornalistas na quinta, 18, sobre o possível envolvimento de Fábio Luis com o “Careca do INSS”, o presidente declarou: “Se tiver filho meu envolvido nisso, será investigado”.

Na sexta, 19, o relator da CPMI do INSS, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), protocolou requerimento de convocação de Fábio Luis, que deve ser avaliado na próxima semana. É a segunda tentativa da Comissão de ouvir o filho do presidente sobre o caso. No início do mês, o pedido foi rejeitado por 12 votos a favor e 19 contra. Com a recente operação de busca e apreensão da PF tendo como um dos alvos Roberta Luchsinger, Gaspar confia que o pedido de convocação será finalmente aceito.

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No mês passado, o senador Carlos Viana (Podemos-MG), presidente da CPMI do INSS, procurou o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, para consultá-lo sobre a possibilidade de a Justiça incluir o executivo paulista Edson Claro no programa de proteção a testemunhas. O magistrado conduz o inquérito que busca identificar os responsáveis e beneficiários do golpe que desviou 4 bilhões de reais das aposentadorias dos idosos. Viana e Alfredo Gaspar ouviram desse executivo o relato que colocou o filho mais velho do presidente no centro do lobby junto ao Ministério da Saúde.

Edson Claro foi diretor financeiro da World Cannabis, uma das empresas do “Careca do INSS”, até maio de 2025, quando eclodiu o escândalo da previdência. Segundo ele, a empresa finalizava um acordo com o Ministério da Saúde para fornecimento de medicamentos de maconha medicinal e testes de dengue e zika, um negócio estimado em 2 bilhões de reais. Havia, porém, entraves técnicos e burocráticos a ser superados. Para agilizar o processo, o “Careca do INSS” teria recorrido aos serviços de Danielle Fonteles e Roberta Luchsinger.

A comissão já sabe, por exemplo, que Roberta Luchsinger esteve várias vezes no Ministério da Saúde entre 2023 e 2024. Em uma dessas ocasiões, ela se reuniu com diretores da pasta e estava acompanhada do próprio Camilo Antunes. Um relatório de inteligência financeira em poder da CPMI revelou que Camilo Antunes repassou 5 milhões de reais a Danielle Fonteles.

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Segundo Edson Claro, esse dinheiro teria sido enviado a Fábio Luís. O executivo afirma ter ouvido da boca de Camilo Antunes os detalhes do negócio, mas não apresentou prova da contratação de Lulinha nem do suposto pagamento que ele teria recebido. Para a CPMI, no entanto, há indícios de que a história merece crédito. “O relato dele coincide e se encaixa em várias de nossas apurações”, disse a VEJA Alfredo Gaspar. Em nota enviada a VEJA, a publicitária justificou que o depósito na conta dela é referente a uma casa que vendeu a Antunes. Ela não deu detalhes do suposto negócio imobiliário.

Edson Claro tem em seu poder mensagens mostrando que Danielle estava a serviço do golpista. “Pessoal, criei esse grupo para acompanharmos passo a passo o trabalho de avaliação do Projeto Cannabis em Aveiro”, diz uma delas, publicada pela publicitária em outubro de 2024, num grupo de WhatsApp criado para acompanhar as negociações junto ao Ministério da Saúde. Em outra, postada no dia 13 de janeiro deste ano, Camilo Antunes coloca no grupo sua localização, com a seguinte legenda: “dentro do gabinete do Ministro da Saúde”. Depois, informou que a “reunião” tinha sido ótima e o negócio estava bem encaminhado: “Apresentei também racional legal pra contratação na forma que estamos apontando. Apresentei os documentos com todos os racionais e ele colocou a seguinte estratégia: irá fazer uma agenda com a secretária Ethel (Maciel, secretária de Vigilância em Saúde) para conduzir o processo”.

Não se sabe exatamente ainda quem é o “ele” citado pelo golpista, mas um dos anfitriões foi o então secretário-­executivo do ministério, Swedenberger Barbosa, atualmente lotado no gabinete pessoal do presidente Lula. Edson Claro disse aos parlamentares da CPMI ter ouvido de Camilo Antunes que ele pagaria ao todo 25 milhões de reais ao filho do presidente se o negócio fosse concretizado, mas não soube dizer o que Lulinha exatamente teria feito para “abrir portas”. Procurado por VEJA, Barbosa não respondeu ao pedido de entrevista. O Ministério da Saúde confirma o encontro, mas não revela quem recebeu a turma do “Careca do INSS”. “Não houve nenhum desdobramento após as reuniões”, limita-se a informar a nota divulgada pela pasta.

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A conversa dos integrantes da CPMI com Edson Claro ocorreu no dia 17 de outubro, em São Paulo. Os parlamentares decidiram procurar o empresário depois de uma inusual movimentação da bancada governista para impedir a aprovação de um requerimento de convocação do executivo. Colocado em pauta no início do mês passado, o pedido acabou rejeitado por 16 votos a 14. Em setembro, quando prendeu o “Careca do INSS”, a PF alegou risco de fuga e uma ameaça que o lobista teria feito ao ex-funcionário.

Edson Claro confirmou ao relator e ao presidente da CPMI que ele foi o funcionário ameaçado. “O Antônio me falou: ‘se você falar alguma coisa, te dou um tiro na cara’. Estive no escritório dele pra uma reunião de acerto de contas, com meu advogado, quando Antonio me ameaçou. Ele queria meu celular, meu notebook, meu iPad, tudo que é eletrônico meu. Ele sabe que tinha informações sobre ele e me ofereceu 2 milhões de reais para que eu entregasse as coisas”, relatou o executivo.

Segundo a cúpula da CPMI, a despeito das ameaças que teriam sido feitas pelo “Careca do INSS”, a testemunha não vai recuar nas denúncias, desde que tenha proteção. “Ele está disposto a comparecer à Comissão e contar o que sabe e ouviu em relação ao filho do presidente”, ressaltou a VEJA Carlos Viana. O ministro André Mendonça, segundo o senador, foi informado sobre as ameaças ao executivo.

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Procurado por VEJA, o magistrado não quis se manifestar. Os advogados de Camilo Antunes dizem desconhecer a relação entre seu cliente e o filho de Lula. Fábio Luís, que se mudou para a Espanha em julho, logo depois da eclosão do escândalo do INSS, não deu retorno ao pedido de entrevista de VEJA. “O depoimento de Edson Claro é muito importante para explicar o nível de acesso que esses golpistas tinham ao poder”, prevê o deputado Alfredo Gaspar.

O relato de Edson Claro, vale ressaltar, não traz qualquer irregularidade quanto ao papel que o filho do presidente teria desempenhado na oferta de negócios ao Ministério da Saúde. Sabe-se que há uma linha às vezes tênue separando o lobby propriamente dito e o crime. É legítimo que ONGs, empresas ou sindicatos contratem pessoas qualificadas para defenderem seus interesses junto a órgãos públicos. Mas é no mínimo estranho quando essa atividade é exercida por um parente ou alguém que tem no currículo, como principal atributo, as relações pessoais com uma autoridade. O envolvimento em negócios com um personagem do calibre do enrolado “Careca do INSS”, inegavelmente, é outro ponto delicado da história.

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