O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu na Casa Branca na segunda-feira 18 o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e líderes de toda a Europa para uma cúpula dedicada ao futuro do conflito entre Rússia e Ucrânia. Poucos dias após uma cúpula sem resultados concretos com o presidente russo, Vladimir Putin, no Alasca, a pressão era grande para produzir avanços na direção da resolução do conflito de 3 anos e meio, que o líder americano certa vez disse que poderia resolver em 24 horas.
As conversas na Casa Branca ainda deixam mais perguntas do que respostas, mas foi possível identificar alguns pontos-chave principais da maratona de reuniões bilaterais e multilaterais do presidente dos Estados Unidos com os líderes da Ucrânia, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Finlândia, União Europeia e Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
1. Putin e Zelensky cara-a-cara
Uma bilateral com Zelensky é algo a que Putin sempre resistiu, insistindo que uma lista de condições fosse cumprida antes de dar esse passo. Mas a possibilidade pode estar agora mais próxima do que nunca.
“Liguei para o presidente Putin e comecei os preparativos para uma reunião, em local a ser definido, entre o presidente Putin e o presidente Zelensky. Após essa reunião, teremos uma reunião trilateral, que seria composta pelos dois presidentes, além de mim”, declarou Trump após as conversas na Casa Branca.
De acordo com o chanceler alemão, Friedrich Merz, o líder russo disse ao americano em telefonema na segunda-feira (Trump teria interrompido a reunião com os europeus para atender a chamada) que estava pronto para se encontrar com Zelensky “nas próximas duas semanas”. O ucraniano, por sua vez, reiterou que estava pronto para conversar com Putin.
Merz e o presidente finlandês, Alexander Stubb, foram contundentes sobre o assunto, afirmando em coletivas de imprensa separadas que ainda não era possível dizer se o presidente russo teria a “coragem” de prosseguir com a reunião. “Raramente se pode confiar em Putin”, Stubb disse.
Por enquanto, Yuri Ushakov, assessor do Kremlin, disse apenas que Putin e Trump discutiram a ideia de “elevar o nível dos oficiais” nas negociações com a Ucrânia. Ele não especificou o que queria dizer e nem abordou a possibilidade de uma trilateral entre os líderes.
2. Garantias de segurança para a Ucrânia
Embora Trump tenha jogado um potencial cessar-fogo para escanteio, ele sugeriu que os Estados Unidos podem participar dos esforços para garantir a segurança da Ucrânia num cenário pós-guerra. Essa é uma das principais demandas de Kiev: um plano para evitar que a Rússia invada o país novamente no futuro. “Quando se trata de segurança, haverá muita ajuda”, mesmo que os países europeus sejam “uma primeira linha de defesa”, disse o americano após receber Zelensky na Casa Branca. Posteriormente, ele afirmou nas redes sociais que essas garantias seriam fornecidas pela Europa e “coordenadas” com Washington.
Antes das conversas, o presidente ucraniano descreveu as garantias de segurança como “uma questão fundamental, um ponto de partida para o fim da guerra” e agradeceu Trump pela indicação de que os Estados Unidos estavam prontos para fazer parte desse processo. Sem mais detalhes, porém, Zelensky disse que o formato dessa ajuda seria “formalizado de alguma forma na próxima semana ou 10 dias”.
Enquanto líderes ocidentais discutiam o tema na Casa Branca, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia emitiu um comunicado rejeitando qualquer perspectiva de envio de soldados da Otan para a Ucrânia. “Reafirmamos nossa oposição categórica a qualquer cenário que envolva o envio de um contingente da Otan para a Ucrânia”, disse a pasta. Países como França e Reino Unido já haviam flutuado a ideia de uma força de “manutenção de paz” — mas as garantias de segurança podem tomar outros contornos, como a ajuda para desenvolver o próprio Exército e defesas da Ucrânia. Trump não ofereceu “tropas em terra”, refletindo reticências em se comprometer com um possível confronto direto com uma potência nuclear, mas não descartou a possibilidade.
3. Empurrão para a indústria bélica dos EUA
Como sempre, Trump tenta usar a crise como oportunidade econômica para a indústria americana. Zelensky já teve que negociar o acesso aos minerais essenciais de seu país com os Estados Unidos, que querem rivalizar com a China na área, e na segunda-feira indicou que o preço para obter garantias de segurança de Washington inclui a promessa de comprar US$ 90 bilhões em armas americanas, principalmente aeronaves e sistemas de defesa aérea.
Ele acrescentou que os americanos também investiriam no programa de drones da Ucrânia, área na qual o país fez avanços significativos desde o início da invasão russa. Anteriormente, o jornal britânico Financial Times noticiou que esse acordo valia US$ 50 bilhões.
4. Tom amigável, mas sem avanços substanciais
Enquanto sete líderes europeus, o presidente ucraniano, suas comitivas, dezenas de funcionários do governo Trump e mais de 100 jornalistas lotavam a Casa Branca na segunda-feira, todos se perguntavam se veriam avanços na direção de um acordo de paz — um um repeteco da última visita de Zelensky a Washington, quando ele virou saco de pancadas do presidente americano e seu vice, J.D. Vance, numa reunião que terminou em bate-boca.
Nenhum dos cenários ocorreu. Zelensky, criticado em fevereiro por sua aparência (não usava terno) e comportamento (“O senhor já disse ‘obrigado’ alguma vez?”, perguntou Vance a ele), ajustou ambos. Vestindo roupas mais formais e expressando repetida e efusivamente sua gratidão a Trump, o ucraniano foi recebido por um Trump muito mais elogioso do que no passado.
Mas, apesar da promessa sobre ajudar com a segurança da Ucrânia após um hipotético acordo de paz, não houve nenhum sinal imediato de que qualquer parte tivesse mudado substancialmente de posição sobre concessão de terras, garantias de segurança ou sanções.