Há dois anos, fiz uma cirurgia aparentemente simples: a retirada de um cisto pilonidal, causado por um pelo encravado na região do cóccix. O cisto já tinha quatro centímetros e começava a comprometer minha coluna. A dor era grande, principalmente quando eu ficava muito tempo sentado. A cirurgia era inevitável.
O que eu jamais poderia imaginar é que essa operação mudaria minha vida para sempre. Durante o procedimento, contraí uma infecção hospitalar. Não sabia ainda, mas aquela bactéria poderia ter me matado em poucas horas, caso tivesse caído na corrente sanguínea. Ela ficou alojada na lombar e foi se multiplicando silenciosamente.
No início de 2024, após uma viagem de férias com minha família, comecei a sentir dores insuportáveis, febre e dificuldade para andar. No dia 22 de janeiro dei entrada no Hospital Santa Catarina. Os exames mostraram que minha infecção estava prestes a se tornar generalizada. Passei por duas cirurgias de emergência e precisei ficar 21 dias internado, tomando antibióticos fortíssimos.
Foram dias de dor, isolamento e medo. Fiquei aberto, sem pontos, com um curativo a vácuo. Não conseguia me mover sozinho, só de lado na cama, dependente das enfermeiras até para ir ao banheiro. Perdi 12 quilos, precisei de morfina para suportar a dor e passei 25 noites praticamente sem dormir.
Em alguns momentos, tive certeza de que ia morrer. Perguntava a Deus por que aquilo estava acontecendo comigo. Tinha minhas filhas pequenas para criar, tantos sonhos para realizar. Entrei em depressão, precisei de psicólogos, fisioterapia e apoio constante.
Mas, numa noite, algo mudou. Após ouvir repetidamente a música “A Bênção”, enviada pela minha cunhada e por uma amiga, tive uma experiência espiritual. Vi uma figura iluminada entrar no quarto e colocar as mãos sobre meu ferimento. Ela não falou nada, apenas me olhou nos olhos, segurou minha mão e transmitiu, com um gesto, a certeza de que tudo ficaria bem. Pouco depois, a enfermeira entrou no quarto, me abraçou e disse as mesmas palavras: “vai ficar tudo bem”. Foi meu ponto de virada.
No dia seguinte, consegui finalmente tomar um banho de chuveiro, depois de mais de uma semana. Quando a água tocou minha pele, chorei compulsivamente — não de tristeza, mas de gratidão. Tive a certeza de que Deus havia me dado uma segunda chance.
Depois de três semanas internado, recebi alta. Ainda fragilizado, mal conseguindo andar sozinho, fui surpreendido por um convite que mudaria meu destino profissional. Pedro Ariel, curador da CASACOR, me ofereceu a oportunidade de assinar a Casa de Vidro, projeto que se tornou um dos destaques da edição de 2025.
Hoje, olho para trás e agradeço por estar vivo. A dor, o medo e a vulnerabilidade me transformaram. Entendi que a vida é um presente frágil, que pode mudar em questão de horas. Mas também aprendi sobre fé, resiliência e amor. Sobre o poder da família, dos amigos, da arte e da espiritualidade.
Quase morri por causa de um pelo encravado. Mas renasci com uma nova missão: viver com mais intensidade, agradecer todos os dias e transformar em beleza cada projeto que eu assinar.