Os dados do IBGE mostram que o Brasil bateu recorde de produção animal no terceiro trimestre de 2025, com destaque para o abate de bovinos, que cresceu 7,4% na comparação anual e somou 11,28 milhões de cabeças. O número, à primeira vista positivo, acende um alerta importante: o avanço expressivo no abate de vacas, que subiu 18% em relação ao mesmo período de 2024. O problema é simples e estrutural — vaca abatida hoje significa menos bezerro amanhã e, na sequência, menos carne disponível no mercado.
A explicação para esse movimento está fora do Brasil. A carne bovina está valorizada no mercado internacional, com demanda firme, o que incentiva o produtor a vender agora e fazer caixa no curto prazo. No terceiro trimestre, a produção de carcaças de vacas avançou 18,7% em um ano, mesmo com queda frente ao trimestre anterior. É um ciclo conhecido da pecuária: quando a fêmea entra no gancho por vários anos seguidos, o ajuste vem depois — na forma de oferta menor e preços mais altos para o consumidor.
Esse cenário se conecta diretamente ao que disse, na semana passada, o novo presidente da CNA, João Martins. Segundo ele, muitos produtores estão se financiando com recursos próprios ou com apoio de fornecedores de insumos, diante da escassez de crédito oficial e dos juros elevados. “Estamos vendo uma agricultura quase autossustentável pelo produtor”, afirmou. O risco, segundo Martins, é claro: sem financiamento adequado, o produtor antecipa decisões de venda para gerar caixa, mesmo que isso comprometa o ciclo produtivo adiante.