Esqueça o Natal bege, o pinheiro minimalista e a decoração que parece mais um retiro de bem-estar do que uma festa. Em 2025, houve uma virada clara no espírito natalino — e ela atende pelo nome de Natal Ralph Lauren (Ralph Lauren Christmas).
A estética, que explodiu nas redes sociais com milhões de buscas no TikTok antes mesmo do Halloween, não nasceu de uma campanha publicitária oficial da marca americana (que hoje também domina os vestidos de noivas pop como Selena Gomez e Taylor Swift), mas de um desejo coletivo: voltar a um Natal exagerado, caloroso, visualmente abundante e emocionalmente reconfortante. Ou seja, um Natal que parece ter saído direto de um filme dos anos 1990.
O melhor exemplo? “Esqueceram de Mim”. A casa dos McCallister virou o arquétipo definitivo da temporada com guirlandas enormes, lareiras acesas, escadas tomadas por festões, meias penduradas em fila e árvores que mal aguentam o peso das bolas clássicas e brilhantes. É o Natal “Ho-Ho-Home Alone”, como já foi apelidado — aconchegante, barulhento, propositalmente excessivo e sem nenhum pedido de desculpa por isso.
Conexão pela Nostalgia
A conexão com Ralph Lauren é quase óbvia. Desde os anos 1990, a marca construiu um imaginário de fim de ano que mistura tradição americana, conforto burguês e uma certa ideia de “casa da avó chique”: mantas empilhadas, veludo, madeira, luz quente e uma sensação de abundância que não é fria nem conceitual. Sofisticada, sim — mas nunca distante. É o oposto da estética higienizada que dominou os últimos anos.
O curioso é que quem mais abraçou esse visual foi a geração Z. Depois de anos orbitando a ironia, o cinismo e o design ultra editado, os mais jovens parecem ter redescoberto o valor de serem sinceramente festivos. Nada de “big light”, aquela luz branca e dura – o Natal agora pede iluminação baixa, pisca-piscas em profusão e velas clássicas. Laços de fita de veludo aparecem em absolutamente tudo, da árvore às maçanetas. E quanto mais tradicional, melhor.
Essa nostalgia não é britânica nem europeia em sua origem, é sim profundamente americana. “Esqueceram de Mim” estreou em 1990, época em que a Ralph Lauren reinou absoluta na moda preppy da década e com Mariah Carey lançando “All I Want for Christmas Is You” em 1994, embalando de vez o Natal como espetáculo pop. É uma memória coletiva de um Estados Unidos pré-guerras culturais, pré-redes sociais tóxicas, marcado por otimismo, glamour acessível e trilha sonora alta. Em tempos fragmentados, esse passado parece irresistivelmente reconfortante.
Não por acaso, outras marcas entenderam o recado. A Burberry, no Reino Unido, investiu pesado em um Natal maximalista, com árvore monumental no Claridge’s, leitura de contos clássicos, referências explícitas aos anos 1990 e uma campanha que mistura fantasia e memória — como se fosse algo que você já tivesse vivido. Até o tradicional comercial da John Lewis entrou no clima, apostando em música house de 1990 e reforçando o desejo por elementos clássicos como a luz de vela na árvore, meias vermelhas tricotadas e enfeites que parecem saídos de um álbum de família.
No fim das contas, o apelo do Natal Ralph Lauren é simples e poderoso: ele não exige grandes investimentos, apenas intenção. Uma árvore — mesmo torta ou artificial — funciona desde que seja coberta de enfeites. Fitas de veludo são baratas e transformam qualquer objeto. Almofadas fofas, mantas, quebra-nozes e luz quente fazem o resto. É um Natal que parece caro, mas é sobretudo emocional.
E a mensagem é clara: alegria não é bege. O Natal não precisa parecer uma instalação de arte nem um spa silencioso. Se os anos 1990 nos ensinaram algo, foi que a vida fica melhor com trilha sonora, exagero visual e uma saudável falta de moderação. Então vale tudo: decorar a escada, a lareira, a porta — e até o gato, se ele permitir. Quanto mais parecer uma cena tirada de “Esqueceram de Mim”, melhor. Porque, no fundo, tudo o que a gente quer para o Natal… é o Natal.
