A Polícia Civil de São Paulo desmontou nesta quarta-feira, 27, uma quadrilha suspeita de roubar quase meio bilhão de reais aplicando golpes virtuais no Brasil. A organização criminosa era composta por sete pessoas, sendo cinco cidadãos chineses e dois brasileiros, e fez ao menos 2.000 vítimas em todo o país ao longo de oito meses.
De acordo com a polícia, os criminosos “contratavam” as vítimas para um falso esquema de impulsionamento de anúncios online, prometendo retornos altos e imediatos — os investimentos fraudulentos eram simulados através de um site hospedado em Istambul, na Turquia. O golpe consistia em convencer o alvo a realizar um aporte inicial baixo (cerca de mil reais), devolver o valor rapidamente com uma margem de lucro e persuadir a pessoa a “aplicar” novamente, sumindo com o dinheiro após as transferências seguintes.
A operação deflagrada hoje mobilizou 97 policiais civis para cumprir sete ordens de prisão e 22 mandados de busca e apreensão em endereços em São Paulo, São José dos Campos e Ibiúna. Até a publicação desta reportagem, cinco dos sete alvos da investigação haviam sido presos, e um suspeito brasileiro e outro chinês estavam foragidos — segundo a polícia, um dos criminosos foi encontrado dentro de um bunker em sua casa, na capital paulista.
Dinheiro era lavado com dados roubados de vítimas de enchentes em SP
As investigações da Polícia Civil e do Ministério Público revelaram uma enorme e complexa estrutura de lavagem de dinheiro roubado, incluindo fintechs e diversas empresas de fachada. Segundo os delegados Ramon Euclides Guarnieri, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), e Edmar Rogério Caparroz, do Departamento de Polícia Judiciária (Deinter-8), o inquérito foi instaurado após a denúncia de uma vítima em Rosana, no oeste de São Paulo.
Para movimentar o dinheiro dos golpes, a quadrilha abriu contas-laranjas em fintechs usando dados roubados de vítimas de inundações em São Paulo, obtidos a partir de uma ação de caridade organizada por uma empresa ligada ao grupo. “Durante um período de enchentes, os criminosos ofereceram cestas básicas a pessoas afetadas e, no momento da retirada, coletavam as informações e tiravam fotos para cadastrar a biometria facial”, explica Guarnieri. De acordo com o delegado, a entrega das cestas ocorria em um bar na Rua Oriente, no Brás, região central da capital paulista.
De acordo com Caparroz, uma das empresas investigadas prestava serviços de “lavanderia de dinheiro” à quadrilha e também a outros grupos criminosos no país. “A quadrilha tinha um ciclo completo para dissimular a origem ilícita dos valores. Não era só os golpes que esses suspeitos aplicavam, mas eles também ofereciam os serviços a outras organizações”, explica.
Além da prisão preventiva, a polícia solicitou o confisco de passaportes dos suspeitos e pediu à Justiça o bloqueio total dos 480 milhões de reais envolvidos no esquema fraudulento.