O PSB considera encerrar a aliança nacional com o PT caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tente garantir um palanque duplo para ele em Pernambuco nas eleições de 2026, apoiando, ao mesmo tempo, as candidaturas de João Campos (PSB) e Raquel Lyra (PSD) ao governo estadual.
“Se Lula optar por coligar o PT com ela, se chegar a esse ponto, acredito que nem projeto nacional vai ter”, afirmou um importante interlocutor dos socialistas a VEJA. Para eles, será necessário, primeiro, garantir o alinhamento no estado para, só depois, discutir os posicionamentos em outras localidades, como São Paulo, e até mesmo no Palácio do Planalto.
“O PT aqui [em Pernambuco] é nosso aliado, e nós somos aliados do PT e do presidente Lula. Como é que a gente não vai ter o apoio deles por causa de uma governadora que, no segundo turno da eleição de 2022, quando qualquer democrata declarou voto a Lula, ela não declarou voto e até hoje não disse em quem votou, até hoje não diz para que lado é, e que está em um partido que não estará com o presidente Lula? O PSD não vai estar com o presidente Lula”, completou a fonte.
A avaliação é feita após o próprio Lula fazer acenos aos dois lados mais de uma vez, inclusive durante a convenção nacional do PSB, que elegeu Campos o novo presidente da sigla.
Em 2006, Lula conseguiu garantir um palanque duplo no estado ao apoiar as candidaturas de seus ex-ministros Humberto Costa (PT) e de Eduardo Campos (PSB), pai de João Campos, contra Jarbas Vasconcelos (MDB). Para o PSB, no entanto, os contextos não podem ser comparados, já que Raquel Lyra não esteve na base do governo em nenhum momento.
Justamente por isso, os socialistas não acreditam que os petistas tentem a mesma estratégia em 2026 e dizem que a proximidade do presidente com a governadora é apenas por questão de civilidade, garantida pelos cargos que ocupam, independentemente de partido. “A chance de esse negócio [um palanque duplo] acontecer é zero. A grande questão é com quem o PT vai coligar. E isso é uma coisa pacificada com a gente”, avalia um membro da diretoria do PSB.
Apesar de a definição formal do PT ser a de integrar a base da gestão Campos, uma ala da legenda faz parte do governo de Raquel Lyra no estado. Figuras como a senadora Teresa Leitão estão mais próximas do prefeito, enquanto isso, o senador Humberto Costa e o deputado estadual João Paulo, ex-prefeito de Recife, estão juntos da governadora.

O PSB está na base do governo Lula desde a campanha eleitoral de 2022, tendo ficado com a vaga de vice-presidente, com Geraldo Alckmin (PSB-SP). Nos bastidores, ventila-se que o presidente ainda avalia se vai manter o ex-governador paulista na sua chapa em 2026 e que considera que seria mais benéfico abrir o espaço para um partido do centrão, inclusive o PSD, de Gilberto Kassab — e de Raquel Lyra.
Em Pernambuco, circula uma ideia de que Raquel Lyra estaria sendo cotada para ocupar a vaga de vice-presidente — algo que a equipe dela nega veementemente, apontando que ela é pré-candidata à reeleição ao comando do Palácio do Campos das Princesas.
Desafio
Já João Campos, que foi reeleito prefeito de Recife em 2024 com mais de 78% dos votos válidos, deverá enfrentar no ano que vem o seu maior desafio eleitoral, como mostra reportagem de VEJA na edição desta semana. Visto como promessa de futuro da esquerda brasileira, ele é apontado como franco favorito pelas pesquisas mais recentes, aparecendo com 50% a 70% das intenções, mas terá de lidar com desvantagens, como inchaço de sua chapa e dificuldade de acomodar aliados, a necessidade de se desincompatibilizar da prefeitura já em abril e quantidade muito menor de palanques nas prefeituras do estado — Raquel Lyra conta com 75% de apoio de prefeitos no estado.