Fazer as medições da pressão arterial, acompanhar o peso e ter conhecimento sobre os riscos da hipertensão. O manejo dessa doença ligada a episódios de AVC e infarto pode até ser conhecido, mas a execução ainda é um gargalo. Uma iniciativa de abordagem integrada chamada Cardio4Cities, da Fundação Novartis, quer virar essa página e mostrou que essas intervenções protegem os pacientes e são capazes de reduzir hospitalizações em até 60%. A meta, agora, é expandir para regiões menos assistidas e diminuir complicações nessas localidades.
Esse resultado é de um estudo publicado no Journal of American Heart Association que considerou os impactos do projeto realizado pela BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo – no bairro de Itaquera, localizado na zona leste da capital paulista e com população estimada em 210.960 habitantes. Na Penha, também na zona leste, a queda foi de 48%. A redução média nos dois distritos foi de 54%. Em relação às taxas de mortalidade hospitalar, houve diminuição de 40% em Itaquera e 45% na Penha. Os dados, compilados para publicação, foram coletados entre 2016 e 2021.
“Apesar de termos o SUS (Sistema Único de Saúde) fazendo a entrega dos medicamentos, o tratamento não chega para todas as pessoas. É uma questão de gestão e organização”, diz Fernando Ribas, cardiologista do Centro de Pesquisa da BP.
Nos bairros da capital paulista, o Cardio4Cities triplicou o número de pacientes hipertensos que conseguiram manter a pressão arterial controlada, o que levou à redução de 48% dos casos de AVC e de 43% dos episódios de infarto.
O projeto também foi avaliado em Dakar, no Senegal, onde a taxa de hospitalização apresentou queda de 26%, o que demonstrou que a iniciativa, que já está sendo expandida para os municípios de Patos (PB) e Aracaju (SE), é replicável.
Como funciona a iniciativa?
Os resultados expressivos do projeto não vieram de mudanças complexas nem que oneravam o sistema, algo que poderia inviabilizar propostas a serem trabalhadas no sistema público de saúde.
Uma das ideias foi a oferta de “cantinhos de triagem”, espaços que permitiam a medição da pressão arterial, pesagem e avaliação das medidas corporais, considerando que a obesidade é um fator de risco para a pressão alta. Ao constatar casos de hipertensão, os profissionais já encaminhavam os pacientes para consulta.
“A ideia era fazer um programa que empoderasse cada região com adaptações locais para o diagnóstico abrangente, com busca ativa, modificação no estilo de vida e fazer com que a região se transforme de forma perene e saiba andar com as próprias pernas.”
Além das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), outros equipamentos, como escolas, foram incluídos no projeto. “É combo de adesão por meio de ferramentas lúdicas, com as crianças levando informações para os pais, e panfletos para a população compreender a hipertensão. Isso também ajuda na elaboração de um plano e um pacto com cada paciente para atingir as metas de pressão.”
Segundo Ribas, a meta é ampliar a iniciativa pelas regiões Norte e Nordeste e, no futuro, levar o método para outras doenças crônicas não transmissíveis: diabetes, dislipidemia e obesidade. “Queremos oferecer equidade no tratamento e fortalecer a atenção primária e a gestão pública.”