A 67ª Cúpula do Mercosul, neste fim de semana, terminou sem a assinatura do acordo com a União Europeia — e com um recado político claro: o bloco expôs a divisão num tema que extrapola comércio e toca a segurança nas Américas. De um lado, Luiz Inácio Lula da Silva defendeu paz, soberania e o direito internacional. Do outro, Javier Milei alinhou-se à pressão dos Estados Unidos contra a Venezuela.
Em discurso duro, Milei classificou o governo de Nicolás Maduro como “ditadura atroz e desumana” e afirmou que “o tempo da abordagem tímida se esgotou”, saudando a pressão do presidente Donald Trump para “libertar o povo venezuelano”. Lula respondeu no sentido oposto: alertou que uma intervenção armada seria “uma catástrofe humanitária” e um precedente perigoso, defendendo que as ameaças reais à soberania vêm da guerra, das forças antidemocráticas e do crime organizado.
Esse racha político ocorre no mesmo momento em que o acordo Mercosul–União Europeia segue travado, adicionando incerteza ao futuro do bloco. Lula havia dito que se o tratado não fosse assinado no sábado não seria mais chancelado pelo Brasil enquanto ele fosse presidente amenizou o tom e vai esperar que a assinatura ocorra em janeir. É esse cruzamento entre diplomacia, comércio e segurança regional que será debatido hoje no programa Mercado — com foco no impasse com a UE e nos efeitos da divisão Brasil–Argentina para o posicionamento do Mercosul no cenário global.