A prisão de Jair Bolsonaro — consumada após sucessivos descumprimentos de medidas cautelares — mergulhou a oposição em um estado de desordem . Entre notas inflamadas, reações tímidas de potenciais presidenciáveis e discursos desconectados, o campo bolsonarista perdeu, ao menos por ora, capacidade de articulação.
Por que a anistia perdeu tração?
Antes da prisão, a oposição mobilizava-se em torno de dois eixos: anistia para condenados pelo 8 de janeiro; e pressão sobre o STF por suposto “excesso punitivo”.
Com Bolsonaro efetivamente detido — e não em prisão domiciliar, hipótese que poderia ser analisada — a narrativa perdeu aderência entre deputados. Robson Bonin, no programa Ponto de Vista, resume: “A própria família cavou a prisão”.
A chamada para uma vigília no condomínio, feita por Flávio Bolsonaro, queimou a largada jurídica e enfraqueceu o pedido de domiciliar que poderia prosperar. No Congresso, ninguém quer bancar uma briga institucional sem respaldo claro da opinião pública.
Falta comando na direita?
É o ponto mais sensível para o grupo. Não há coordenação, nem figura capaz de ocupar o vácuo político deixado pelo ex-presidente: “Não tem ninguém liderando isso. Cada governador de direita, cada parlamentar, manifesta sua indignação do jeito que bem entende, vitimizando Bolsonaro, atacando o STF… Mas percebemos que não há nenhuma unidade nesse discurso, nem estratégia clara”, afirma Bonin.
A leitura que falta: como a sociedade reagirá?
O Congresso deve aguardar o fim de semana para medir humor social: Haverá mobilização espontânea? O país reagirá com indignação, ou com indiferença? O episódio pode reacender a militância bolsonarista?
Se a resposta for morna — como sugerem sinais iniciais — parlamentares dificilmente embarcarão em aventuras institucionais contra o Supremo.
Um futuro sem guia
O bolsonarismo entra nos próximos dias sem coordenação, sem estratégia e sem candidato unificado. A prisão, que poderia ser explorada politicamente como vitimização, chegou em momento inoportuno e sem estrutura para transformá-la em capital eleitoral.
Com o ex-presidente fora do jogo e a oposição batendo cabeça, o campo da direita encara um período de incerteza — exatamente no limiar da pré-campanha de 2026.