O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, declarou nesta sexta-feira, 31, que “apoia integralmente” a decisão anunciada na véspera pelo Palácio de Buckingham, de que Andrew, irmão do rei Charles III, teria todos os títulos oficiais removidos. A medida bombástica veio na esteira de novas e sórdidas revelações sobre o escândalo sexual em que se meteu o membro da realeza próximo de Jeffrey Epstein, o financista americano condenado por manter uma rede de exploração sexual de garotas, muitas menores de idade.
Embora a história fosse conhecida, o lançamento recente de Nobody’s Girl, autobiografia de Virginia Giuffre, a vítima que cometeu suicídio em abril e primeiro implicou o royal no esquema criminoso com uma acusação de estupro (“Ele achava que transar comigo era seu direito”, escreveu no livro), tornou a situação de Andrew insustentável. Bem que ele tentou, mas não conseguiu evitar a humilhação ao abdicar por conta própria do uso dos títulos há duas semanas – sempre negando “enfaticamente” todas as acusações.
“Apoiamos integralmente a decisão tomada ontem pelo palácio. Nossos corações estão com a família de Virginia Giuffre e com todas as vítimas que sofreram com os crimes desprezíveis de Jeffrey Epstein”, disse o porta-voz de Starmer. “Reiteramos a declaração (do Palácio de Buckingham), de que nossos pensamentos e mais profundas condolências estiveram e permanecem com as vítimas e sobreviventes de todas as formas de abuso.”
Além de destituir o ex-príncipe das honrarias, o Palácio de Buckingham também anunciou que Andrew deixará o Loyal Lodge, palacete nas cercanias do Castelo de Windsor onde vive com a ex-esposa e agora ex-duquesa Sarah. Despejado da mansão pela qual pagava aluguel simbólico, agora terá de arranjar-se com a situação de moradia por conta própria, indo para uma casa pessoal em Sandringham, no leste da Inglaterra — coisa que nunca havia feito na vida.
Em entrevista à emissora britânica BBC, o ministro do Comércio, Chris Bryant, comemorou que Andrew será agora apenas “um cidadão comum”.
“Apoiamos calorosamente, eu apoio calorosamente o que o rei está fazendo. Acho que a grande maioria das pessoas neste país concordará que é a coisa certa a fazer”, disse Bryant, acrescentando que o Sr. Windsor deveria ir aos Estados Unidos, caso solicitado, para responder a perguntas sobre os crimes de Epstein.
A prerrogativa para “caçar” efetivamente os títulos reais é do Parlamento, mas para isso era preciso que o rei Charles iniciasse o processo, coisa que finalmente aconteceu, para o júbilo da maioria dos legisladores. Embora Starmer tenha declarado apoio total ao projeto, ele estava hesitante em tocar nessa batata quente antes de qualquer movimento do Palácio de Buckingham, na tentativa de afastar de si a imagem do velho (e falido) líder do seu Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, conhecido anti-monarquista.
Diferentes jornais britânicos comemoraram a queda de Andrew, como o tabloide Daily Mirror, que manchetou um nada sutil “Finalmente”. O The Sun ironizou: “Andrew, anteriormente conhecido como Príncipe”. Quando a BBC interrompeu um programa para anunciar a notícia, o público presente irrompeu em aplausos.
Dos conservadores aos trabalhistas, quem se manifestou falou em apoio a Charles. “Acho que o rei sentiu claramente que esta é a decisão certa para a família real. E eu acho que isso está certo”, disse a líder do Partido Conservador, Kemi Badenoch.
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Expulsão
O agora ex-príncipe foi efetivamente expulso da família real na quinta-feira 29, perdendo títulos, passando a ser conhecido como Andrew Mountbatten Windsor e sendo despejado da mansão onde morava nos arredores do Castelo de Windsor. O ato foi uma resposta à indignação crescente em torno da realeza britânica devido ao seu comportamento, tendo sido apoiado por toda a família real, em especial o herdeiro do trono, príncipe William.
Segundo a agência de notícias Reuters, a decisão de Charles foi influenciada pelo resultado de pesquisas recentes, que mostravam a perda de apoio à família real junto aos britânicos mais jovens durante o desenrolar dos últimos capítulos do escândalo Andrew-Epstein. Aos 76 anos, o monarca que passou a vida inteira esperando a vez no trono luta para preservar a monarquia, essa instituição um tanto anacrônica que faz pouco ou nenhum sentido no mundo moderno, e quis sinalizar que questões de primeira ordem na conversa contemporânea, como abusos, não têm lugar no seu reino.
Outrora visto como um respeitável oficial naval devido a seu serviço na Guerra das Malvinas, além de tido como o filho favorito da falecida rainha Elizabeth II, Andrew viu sua reputação se dissolver devido às revelações do caso Epstein. Além do livro de Giuffre, uma recém-lançada biografia sobre o royal-problema, Entitled: The Rise and Fall of the House of York, do historiador inglês Andrew Lownie, conferiu tintas gritantes a enroscos em que se meteu.
Segundo o autor, Epstein estava no topo da longa lista de más amizades do Sr. Windsor, e teria proferido a frase: “Somos ambos viciados em sexo, mas pelos relatos que recebi das mulheres que compartilhamos, ele é o animal mais pervertido do quarto”. Uma amostra do insaciável apetite sexual do duque foi dada em Bangkok, na ocasião do jubileu de diamante do rei da Tailândia, em 2006, quando ele levou quarenta mulheres à sua suíte de hotel.
Embora sempre tenha negado as acusações, Andrew fechou um acordo extrajudicial multimilionário com Virginia Giuffre há poucos anos, em uma tentativa mal-sucedida de encerrar o tema sem admissão de culpa. Tentando também encerrar o assunto e evitar mais manchas à imagem da coroa, Elizabeth II removeu dele os títulos militares e o lugar entre os senior royals, aqueles que efetivamente representam a monarquia. Não funcionou, claro. Uma pesquisa da YouGov publicada na quinta-feira 30 mostrou que ele tem 9% de aprovação, pior índice de toda a história da realeza. Um tremendo choque de realidade.
