O ex-presidente da Bolívia, Luis Arce, que deixou o cargo há um mês, foi preso nesta quarta-feira, 10, em sua casa em La Paz. O anúncio foi feito pela ex-ministra da Presidência, María Nela Prada, aliada de Arce. Ela também afirmou que Arce estava sozinho e foi detido sem mandado, tendo sido levado à sede da Força Especial de Luta Contra o Crime Organizado na Bolívia (FELCC).
“É claro que ele é inocente”, disse Prada aos jornalistas. “Isso foi um abuso de poder total. Esperamos que este caso não seja usado como uma oportunidade para realizar perseguição política.”
O governo boliviano informou à emissora americana CNN que a prisão está relacionada a investigações sobre desvio de verbas do “Fundo Indígena”. Arce, então ministro da Economia de Evo Morales, teria autorizado repasses de verbas públicas para contas privadas. Os valores teriam sido recebidos pela ex-deputada Lidia Patty, que está detida. Ela “admitiu ter recebido verbas públicas em contas privadas, enquanto sua defesa alegou que a ação foi amparada por uma instrução oficial emitida pelo então ministro da Economia”, disse o comunicado.
Arce deixou o poder após a posse Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão (PDC), de direita, no mês passado. Na Bolívia, a guinada conservadora ocorre após uma sucessão de escândalos econômicos e políticos, incluindo uma tentativa de golpe em junho. É reflexo também do racha interno do Movimento ao Socialismo (MAS), partido que estava no poder desde a eleição de Evo Morales.
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Disputas políticas entre Arce e Morales enfraqueceram o Movimento ao Socialismo. O ex-presidente retornou à Bolívia apenas 11 meses após ter partido em exílio no México. Ele havia renunciado e fugido da Bolívia após ser acusado de fraudar o resultado das eleições em 2019. Pouco tempo após o retorno, Morales demonstrou afastamento de Arce.
Em 2023, anunciou sua candidatura presidencial para as eleições de 2025, em desafio ao antigo aliado. Morales acusou o governo de tentar barrar a sua candidatura e prometeu uma “convulsão” no país caso fosse impedido de disputar, enquanto Arce alegava que o agora adversário tentava implementar um “cenário de crise estrutural no país” para “encurtar” o seu mandato.
Em maio, Arce desistiu de competir à reeleição e lançou Eduardo del Castillo como candidato. Em paralelo, Morales tentava consolidar a candidatura de Andrônico Rodrigues, que rompeu com o MAS e concorreu sem o apoio oficial da legenda. Resultado: os dois ficaram de fora do segundo turno, disputado pela direita. Paz derrotou, então, o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, da Aliança Livre. Ele assumiu o comando do país sob a promessa de oferecer “capitalismo para todos”, promover o desenvolvimento econômico e reduzir a polarização.