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Portugueses do Napa, sucesso no TikTok, revelam inspirações brasileiras

Em dezenas de milhares de vídeos publicados na rede TikTok, a trilha sonora é a mesma, independente da origem de quem os publica. Entre italianos, americanos e brasileiros, os criadores de conteúdo utilizam a faixa portuguesa Deslocado, do grupo NAPA, para ilustrar a nostalgia que sentem por suas cidades de origem ou para relembrar o início de amizades longevas. Embalam as publicações um trecho de 15 segundos do refrão, no qual o vocalista Guilherme Gomes lamenta, em bom sotaque português: “Por mais que possa parecer, eu nunca vou pertencer àquela cidade. O mar de gente, o Sol diferente. O monte de betão não me provoca nada, não me convoca casa”.

Ultrapassando fronteiras que a música contemporânea portuguesa raramente cruza, o hit ocupou a primeira posição da parada de músicas virais no Spotify Brasil e chegou a competir no Eurovision 2025, onde se digladiam popstars de toda a União Europeia. A sonoridade do indie rock e as letras em português não conseguiram desbancar os concorrentes de pop chamativo e anglófono, mas hoje já acumula mais reproduções no streaming do que a faixa campeã, Wasted Love, do austríaco JJ. Em entrevista a VEJA, Guilherme Gomes e seus colegas de banda — o guitarrista Francisco Sousa, o bateirista João Rodrigues, o baixista Diogo Góis e o pianista João Lourenço Gomes — comentam o sucesso inesperado, a relação que têm com a música brasileira e as origens da canção.

Deslocado parte de um sentimento universal, que é a saudade de casa. Quando essa experiência se manifestou para vocês?
Guilherme Gomes: Nós somos da Ilha da Madeira e, quando fizemos 18 anos, fomos estudar em Lisboa, assim como fazem muitos nativos da região na hora de ir para a faculdade. Desde aí, em 2014, cresceu um sentimento de deslocamento na cidade grande. Apesar de ter me adaptado, criado uma rotina e conhecido gente nova, persiste algo que me faz sentir de fora. A música cresceu disso e, quando a lançamos, percebemos que não era nem sobre Lisboa, nem sobre Madeira, mas sobre esse sentimento universal. Percebemos que há muitas maneiras de ler a canção. Foi uma surpresa. 

E o que faz a Ilha da Madeira ser fonte de tanta inspiração?
Diogo Góis: Há a dualidade entre a serra e o mar, que abre os horizontes para a criatividade, para coisas que são completamente diferentes.
Guilherme Gomes:
A água é visível de qualquer ponto da ilha. O azul nos acompanhou a vida inteira e cria uma certa introspecção constante. É um lugar muito bonito, além disso. Há um clima de festa muito grande. 

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Pouco se fala da penetração da música portuguesa no mercado brasileiro. Esperavam atingir ouvintes do outro lado do Atlântico?
Guilherme Gomes: Nenhum de nós tinha conseguido imaginar uma coisa do tipo. Sabemos que é muito difícil, são poucos os portugueses que conseguem furar o mercado brasileiro. Para nós, é uma honra enorme. Adoramos a música brasileira, a ouvimos desde sempre. Pode ser que Deslocado quebre o padrão e que mais sons portugueses sejam exportados para o país, seria maravilhoso.

Como têm sido as interações com essa nova ala de fãs?
Guilherme Gomes: É engraçado ler os comentários que deixam em nossas postagens. Muitos brasileiros estão descobrindo a banda por conta de Deslocado sem nunca ter ouvido falar de música portuguesa. Eles estranham o sotaque. Uns perguntam o que é “betão” [concreto], palavra que não se diz no Brasil. Isso, às vezes, pode ser uma diferença insuperável. Por outro lado, estamos felizes com a recepção da música. Assistimos a vários covers em português do Brasil e seria interessante colaborar com algum artista brasileiro no futuro. De nós, só Francisco já viajou para o país, queremos muito fazer um show aí.

Quais dicas dariam para quem quer saber mais da música portuguesa contemporânea?
Lourenço Gomes: Podemos dar como exemplo os Ornatos Violeta, que são uma banda indie mais antiga, com muita qualidade.
Guilherme Gomes: O Capitão Fausto é uma grande referência para nós como banda. Eles também vieram do indie rock e nos inspiraram a fazer esse tipo de música em português. Eles gravaram um show com o Tim Bernardes.
Lourenço Gomes: Algo mais popular seria o Rui Veloso.
Guilherme Gomes: Sim, mas acho que, no fundo, um bom conselho seria explorar playlists nos streamings, como as paradas portuguesas. Hoje em dia há uma facilidade muito grande em descobrir coisas novas.

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Na contramão, carregam inspirações brasileiras?
Guilherme Gomes: Sim, eu e meu irmão sempre ouvimos muita música brasileira por causa do nosso pai. Os nomes que inspiram a composição e a vibe da banda talvez sejam Tom Jobim, Chico Buarque, o Bala Desejo, os Los Hermanos, Tim Bernardes, o Terno e o Rubel. 

Deslocado estourou fora de Portugal depois da participação do grupo na competição Eurovision, que é mais conhecida pelo europop. Houve, também, um deslocamento nessa experiência?
João Rodrigues: É claro que nós, no Eurovision, éramos um pouco peixinhos fora d’água, não temos como negar. Mesmo assim, acho que nós fizemos essa música como forma de representação. Por ser verdadeira, ela ganhou [o Festival RTP da Canção de 2025] em Portugal, o que significa que os portugueses se identificaram com ela. Se estávamos deslocados ou não, fomos escolhidos pelo nosso país. 

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Depois dos singles Deslocado e Infinito, quais os planos para a banda?
Guilherme Gomes: Vamos fazer os dois maiores shows da nossa carreira em janeiro de 2026, um no Coliseu de Porto e outro no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Antes disso, vamos lançar mais uma inédita e estamos preparando o álbum que vai sair depois.

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