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Por que guerra tarifária não afundou economia dos EUA

Em abril deste ano, quando o presidente Donald Trump anunciou o seu apocalipse tarifário, prometendo fazer a maior elevação de taxas de importação da história dos Estados Unidos, investidores na bolsa entraram em pânico e economistas e analistas de bancos previram, com razão, cenários preocupantes de desmonte do comércio mundial e de desaceleração ou até retração da economia americana. Oito meses depois, o desastre ainda não aconteceu.

As previsões divulgadas esta semana pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, clube dos países mais desenvolvidos do mundo), por exemplo, indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) global vai crescer 3,2% este ano, acima do que se estimava em junho, de 2,9%, e apenas 0,1 ponto percentual abaixo do crescimento registrado em 2024.

Além disso, pelas contas da OCDE, o PIB americano deve fechar 2025 com um crescimento de 2% — a previsão em junho era de um avanço de apenas 1,6%. A pressão inflacionária dentro dos Estados Unidos se faz sentir, em alguns setores mais do que em outros, mas, no geral, a variação dos preços está nas casas decimais. A geração de emprego também perdeu força, mas a taxa de ocupação continua em patamar excelente na comparação histórica.

A estabilidade relativa da economia americana, contradizendo as perspectivas mais pessimistas, respingou positivamente nas expectativas de crescimento para países latino-americanos mais diretamente ligados ao mercado dos Estados Unidos. Segundo a Sondagem Econômica para a América Latina divulgada nesta quarta-feira, 3, pelo Instituto Brasileiro de Economia da FGV, houve um aumento da expectativa de expansão do PIB para Paraguai, Peru, Chile, Colômbia, Equador e México (com os três últimos enquadrando-se nesse perfil).

Afinal, a bola de cristal dos analistas econômicos parou de funcionar? Eles erraram redondamente? Nem tanto. A principal explicação para a aparente resistência da economia americana ao impacto tarifário está na distância entre o que Trump anunciou e o que ele de fato implementou em termos de taxas alfandegárias. Se tivesse colocado em vigor o que prometeu, a tarifa de importação média estaria em mais de 25%. Mas com os constantes recuos do presidente americano, inclusive nas taxas impostas sobre produtos brasileiros, a tarifa geral efetiva nos últimos meses variou entre 15% e 18% — ainda assim, a mais alta desde a década de 1930.

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Além disso, muitas empresas americanas aceleraram as importações antes da entrada em vigor das tarifas mais altas. Outras trataram de reduzir a margem de lucros para absorver parte da alta nos preços. Por fim, a economia americana se manteve relativamente aquecida pelo boom em investimentos em novas tecnologias, especialmente tudo o que gira em torno da inteligência artificial, de microchips a data centers.

A análise da OCDE, no entanto, vê o risco de que essas forças de contenção se desfaçam nos próximos meses. Os estoques de produtos importados nos Estados Unidos estão para acabar, a redução das margens de retorno cobra seu preço de outras formas (por exemplo, com a redução nos investimentos) e o boom da inteligência artificial pode desapontar quem nele apostou.

Outro risco apontado pela organização dos países desenvolvidos é o da crescente dívida pública americana, que não está sendo contornada pela maior arrecadação com os impostos de importação, como havia prometido Trump.

Em tempo: a OCDE também elevou a projeção de crescimento do PIB brasileiro para 2025, que saiu de 2,1% (no relatório de junho) para 2,4%. Para 2026, a estimativa é de desaceleração da economia: o ano deve fechar com crescimento de 1,7%.

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