counter Por que congelamos nos momentos de transição na vida? – Forsething

Por que congelamos nos momentos de transição na vida?

Nos últimos anos, parece que a vida tem nos lançado de uma transição para outra, sem tempo para respirar. Primeiro, veio a pandemia, que virou nosso cotidiano do avesso: trabalho remoto, escolas fechadas, luto coletivo, medo do futuro.

Mal começamos a nos adaptar, e já estamos enfrentando novas ondas de instabilidade: crises políticas sucessivas, universidades em greve, inflação que sobe e desce como montanha-russa, empregos que evaporam de um dia para o outro, inteligência artificial que promete revolucionar, ou destruir, carreiras inteiras.

É como se o mundo que a gente conhecia estivesse desaparecendo aos poucos. E, no lugar dele, surgiu uma realidade instável, para a qual ninguém nos deu um manual.

Muita gente me procura nesse momento com uma mesma frase: “Eu sei que preciso fazer alguma coisa… mas não consigo.”

Essa sensação tem nome — e não é fraqueza. É o que acontece com o nosso cérebro quando o cenário muda tão rápido que as antigas previsões não fazem mais sentido.

O que acontece no cérebro quando tudo muda

A mente humana é uma grande preditora de padrões. Ela funciona com base em mapas internos que dizem como o mundo deveria funcionar: o salário que cai no fim do mês, o mercado que abre às 8h, os filhos que vão para a escola, o ônibus que passa às 7h32.

Continua após a publicidade

Esses mapas são o que nos dão segurança. E, mais do que isso, são o que permitem que a gente funcione no automático e economize energia para lidar com os imprevistos.

Só que, em tempos de transição profunda, esses mapas desaparecem. De repente, o “previsível” deixa de existir. O que antes era certo, agora é dúvida.

E, quando isso acontece, o cérebro faz o que faria em qualquer situação de risco: ativa o alarme.

Mas o alarme, nesses casos, nem sempre vem em forma de luta ou fuga. Muitas vezes, ele vem como congelamento.

Continua após a publicidade

É aí que aparece a evitação psicológica:

Você adia a inscrição para um curso ou concurso porque “o país está instável demais”;
Evita abrir e-mails do trabalho com medo do que vai encontrar;
Continua num relacionamento que já acabou, só para não ter que lidar com a solidão;
Finge que não está doente, porque fazer exames traria uma verdade difícil demais;
Se convence de que “semana que vem volta pra academia”, há meses.

A evitação é o que fazemos para fugir do desconforto. É a tentativa de escapar da ansiedade, da dúvida, da tristeza — só por mais um tempinho.

Ela dá um alívio momentâneo. Mas no fundo, nos mantém paralisados.

Continua após a publicidade

Durante grandes mudanças, muitas pessoas se sentem travadas porque estão usando toda a sua energia para fugir de uma realidade que ainda não sabem como encarar.

Tá tudo bem não estar tudo bem

Quando a vida muda de rumo, é comum sentir como se algo tivesse sido perdido. E de fato, foi.

O plano antigo, a rotina conhecida, as certezas que ancoravam nossos dias. Existe aí uma espécie de luto, ainda que ninguém tenha falecido.

Mas a nossa cultura tem pressa para se adaptar e para “superar”.

Continua após a publicidade

E, com isso, muitas vezes atropelamos o momento mais importante da transição: o tempo de reconhecer que está doendo.

Dizer “não estou bem” é o primeiro passo para estar um pouco melhor.

A verdade é que esse lugar de desconforto e de não saber o que fazer também faz parte do caminho. Reconhecer isso, inclusive, é o primeiro passo para encarar qualquer transição.

Na próxima coluna, eu quero te mostrar como começar a agir mesmo quando tudo parece incerto, sem atropelar seus sentimentos e sem fingir que está tudo sob controle.

Continua após a publicidade

Mas, por enquanto, só quero te deixar com uma lembrança simples: se você está se sentindo perdido, paralisado ou sem rumo em meio a tantas transições, você não está sozinho.

E tá tudo bem não estar bem. Você apenas está em transição.

Já tinha pensado em transições por essa perspectiva? Elas não são só mudanças práticas. São atravessamentos emocionais, que muitas vezes exigem mais da gente do que qualquer decisão difícil.

Se isso tocou em algo aí dentro, me conta lá no Instagram? Gosto de caminhar junto com quem está vivendo esses processos e adoro conversar com meus leitores por lá.

E até a próxima coluna, te deixo com um lembrete: nem tudo que parece estagnação é fraqueza. Às vezes, é só o tempo necessário para o seu cérebro refazer o mapa.

Compartilhe essa matéria via:

Publicidade

About admin