A cena é no mínimo vergonhosa. Um homem desobedece as regras do museu e se senta em uma obra de arte para tirar uma foto. A obra quebra e ele sai de fininho com a mulher que registrava o momento. A cena registrada por câmeras de segurança foi amplamente divulgada pelo Palazzo Maffei, em Verona, na Itália, onde o caso ocorreu e, nesta segunda-feira, 16, o museu apresentou uma denúncia na polícia contra o turista. A obra em questão é a cadeira “Van Gogh”, uma escultura feita de cristais swarovski inspirada no móvel pintado pelo artista holandês em diversos quadros nos quais ele retratou o próprio quarto.
O “exposed”, termo muito usado nas redes para classificar a exposição virtual de atos questionáveis, viralizou e levou pessoas a ponderarem sobre o quão errado ou não o casal fugitivo estava – assim como o museu, por expor a dupla, apesar de cobrir os rostos de ambos, e denunciá-los.
A controversa é simples de se encerrar: se a regra do museu é não tocar nas obras, então os turistas estavam errados – tanto que, esperaram que a sala estivesse vazia para a peripécia. Eles deveriam, então, arcar com o custo da restauração da cadeira, que já voltou a ser exibida? Isso é algo para a justiça italiana decidir.
Quem é Nicola Bolla, artista por trás da cadeira Van Gogh
A cadeira Van Gogh nunca foi feita para ser uma cadeira, mas sim uma obra de arte contemporânea que presta homenagem ao artista, assim como traz consigo valores simbólicos e reais. Assinada pelo artista italiano Nicola Bolla, a peça delicada foi adquirida pelo museu em 2022 – a instituição se recusa a falar o preço pago pela cadeira, dizendo que a peça tem valor incalculável. Em partes, eles estão certos.
Em leilões, peças do artista variam de valor dependendo do tamanho e do material utilizado. Estimativas apontam que a cadeira deve ter custado entre 50.000 e 200.000 euros. Apesar de pouco conhecido, Nicola Bolla, 62 anos, é um artista respeitado no meio, especializado em esculturas e que costuma batizar suas obras com o termo “vaidade”, ironizando itens cotidianos cravejados com pedras preciosas – além da cadeira, por exemplo, ele fez o mesmo tipo de escultura com swarovski representando um vaso sanitário e a cabeça de uma caveira.
Natural de Saluzzo, Bolla era filho de artistas e se dividiu na juventude entre a paixão por pintar e a faculdade de medicina. Se formou oftalmologista e pôde viver com ambas as profissões, sem pensar na arte como fonte de renda. Suas esculturas são propositalmente artificiais: ao cobrir itens cotidianos com pedras preciosas, ele questiona os valores da vida moderna e mostra que pobreza e riqueza coexistem – assim como o paradoxo daqueles que, em um museu, almejam postar nas redes fotos que atestem seu gosto pela arte, mesmo sem respeitá-la de fato.