A operação policial de 28 de outubro nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos, sendo a esmagadora maioria bandidos de alta periculosidade, renovou as esperanças da direita fluminense de mostrar serviço na eleição do ano que vem. Visto de fora, nada mudou — o prefeito Eduardo Paes segue (bem) na frente na disputa pelo governo do estado. Mas, no bastidor, a aprovação popular à ação fortaleceu o nome do governador Cláudio Castro (PL) e fez a direita voltar a se mexer para emplacar nomes. Desde que Castro rompeu com seu sucessor natural, o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União Brasil), o PL havia decidido concentrar esforços na votação para o Senado, e o governador, agora em alta, é candidatíssimo à vaga. Mas o ânimo renovado está atiçando principalmente a ala bolsonarista a rever as chances na votação para o Palácio Guanabara.

O PL já cogitou lançar ao páreo ex-ministros bolsonaristas, como Eduardo Pazuello e Paulo Guedes. Rodolfo Landim, ex-presidente do Flamengo, também entrou no radar, mas, envolvido com negócios no ramo esportivo que seguem de vento em popa, não parece disposto a encarar o desafio. Agora, um outro nome passou a circular com força nas últimas semanas como possível candidato do PL contra Paes: o do secretário de Polícia Civil do Rio, Felipe Curi. Assim como Castro, ele ganhou destaque e fama nas redes após a operação policial. Marcado por uma tragédia pessoal — o pai foi morto em um assalto quando ele tinha 18 anos — e respeitado na corporação, é considerado pessoa de fala direta, “sem papas na língua”, o que desperta comparações com Bolsonaro. No sábado 15, Curi participou de um compromisso com o senador Flávio Bolsonaro, entregando recursos arrecadados através de doações aos agentes que atuaram na operação. Mesmo assim, há dúvida se está disposto a entrar na política. “Ele não descarta, mas é pouco provável. O objetivo da vida dele sempre foi ser delegado de polícia”, afirma um aliado.
Castro, por sua vez, segue tendo no Senado a prioridade máxima e até dá sinais de costurar uma trégua com Paes, do tipo “eu não te incomodo e você não me atrapalha”, um acerto informal do qual os bolsonaristas, adversários figadais do prefeito, não querem nem ouvir falar. Integrantes do círculo próximo do governador acenaram a aliados de Paes com a sugestão de que ele movimentasse seu grupo na Assembleia para aprovar projetos de interesse do Palácio Guanabara e ambos evitassem ataques públicos. Os dois também teriam discutido sobre como impedir que Bacellar, voz dominante na Alerj, se torne governador interino quando Castro, que não tem vice, deixar o cargo para disputar o Senado. O arranjo teria o aval do alto escalão do partido — tanto do todo-poderoso do PL no Rio, Altineu Côrtes, quanto do presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto. O próprio Paes já confirmou que, sim, caminharia ao lado do PL, “por amor ao Rio”.

A troca de gentilezas provocou ruído entre os bolsonaristas: o líder do PL na Câmara, Rogério Amorim, e o da Alerj, Filippe Poubel, fizeram declarações contra. “Se o PL caminhar com Eduardo Paes, vocês têm a minha palavra: eu não fico no PL”, afirmou Poubel em vídeo publicado nas redes. Já o “príncipe herdeiro” do partido no Rio, Flávio Bolsonaro, escreveu na plataforma X: “Alguém me explica como dá para ser palanque de Bolsonaro e de Luiz ao mesmo tempo? Ser contra e a favor de traficante? Ser contra e a favor de aborto?”, questionou (em tempo: Luiz, no caso, é o presidente Lula, que apoia Paes).

Os movimentos em diferentes direções expõem tensões antigas. A cúpula do PL fluminense já vinha descontente com a atuação do clã Bolsonaro no estado, onde age quase como uma ala independente. Um exemplo citado por integrantes do partido foi o apoio da família à reeleição do prefeito de Búzios, do Republicanos, na disputa de 2024, em detrimento do candidato do PL. Nomes fortes da sigla também afirmaram que incomoda à cúpula a relação entre Flávio e Bacellar, que continuaria sendo recebido pelo senador mesmo após o racha com Castro. O governador recentemente recebeu autorização para visitar Bolsonaro no fim de novembro. Aliados afirmam que a iniciativa do encontro veio do próprio Castro e foi aceita diante da ida iminente do ex-presidente para o regime fechado. Até o encontro, pelo menos, a direita fluminense seguirá tentando articular uma difícil união para 2026.
Publicado em VEJA de 21 de novembro de 2025, edição nº 2971