Pesquisadores identificaram em rochas do período Carbonífero, em Staffordshire, na Inglaterra, o fóssil de um peixe chamado Platysomus parvulus. Datado de cerca de 310 milhões de anos, ele preserva em três dimensões uma adaptação até então desconhecida para aquela época: dentes localizados tanto no céu da boca quanto na base da língua, que funcionavam juntos como uma segunda mandíbula.
Esse arranjo permitia ao animal triturar presas de casco duro, como pequenos crustáceos e insetos aquáticos. Até agora, acreditava-se que esse tipo de mecanismo só havia surgido 150 milhões de anos depois, em peixes mais modernos.
O que é a “mordida da língua”?
A chamada “tongue bite” é um sistema em que dentes adicionais, situados em ossos do esqueleto branquial (responsável pelas guelras), trabalham em oposição aos dentes do céu da boca. Em vez de depender apenas das mandíbulas tradicionais, o peixe contava com esse reforço interno para agarrar e esmagar presas.
Nos peixes atuais, versões desse mecanismo aparecem em espécies como o bonefish (Albula) e algumas trutas, que conseguem ampliar a variedade de alimentos de que se nutrem. A descoberta em Platysomus mostra que a natureza já experimentava soluções desse tipo muito antes do que se imaginava.
O que isso nos ensina sobre a evolução?
Segundo os autores do estudo, liderados pela Universidade de Birmingham, a inovação surgiu logo após a extinção do fim do Devoniano, que eliminou muitas espécies marinhas. Esse período foi marcado por uma explosão de novidades evolutivas entre os peixes com nadadeiras raiadas, grupo ao qual pertencem hoje a maioria das espécies conhecidas.
O Platysomus representa um elo intermediário entre peixes com mandíbulas simples e linhagens posteriores que dependiam quase exclusivamente da mordida da língua para se alimentar. Essa transição revela como, em momentos de crise ecológica, os animais testaram rapidamente novas estratégias de sobrevivência.