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Pegando fogo: especulações sobre futuro de Maduro escapam ao controle

Alguém imagina um Boeing lotado de agentes da CIA pousando em Porto Alegre como se ninguém fosse perceber? A especulação é absurda, mas a realidade não está muito distante: Donald Trump não quer mais seguir a política de apenas sancionar Nicolás Maduro e seus asseclas na transformação da Venezuela num narcoestado.

O envio de três contratorpedeiros, com mais poder de fogo do que toda a Venezuela, mostra que houve uma escalada – embora não saibamos até onde vai chegar. Até o líder supremo da diplomacia brasileira, Celso Amorim, achou por bem manifestar “preocupação” com o deslocamento dos navios de guerra. “Acho que a não intervenção é fundamental”.

Mas como ele sabe que os navios foram mandados para as imediações da Venezuela para interferir no país, e não bloquear o tráfico de cocaína? Como o assessor especial foi feito de bobo por Maduro e está esperando até hoje os boletins eleitorais prometidos, suas ilações ficaram comprometidas em todos os campos.

Muitas das conclusões que correm no momento obedecem a princípios ideológicos: a esquerda surta com uma eventual “intervenção”, a direita torce para que aconteça logo. A promessa do uso de todos os meios propiciados pelo poderio bélico americano faz ferver as especulações. Sem contar contribuições como a do deputado republicano Carlos Gimenez, refugiado de Cuba quando criança, ao afirmar que “os dias de Nicolás Maduro estão contados”.

SOB AS BARBAS DO REGIME

O fato é que Gimenez não tem mais informações do que as publicamente conhecidas. E o que está acontecendo em sigilo?

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Mesmo que a versão do avião cheio de assassinos seja fantasiosa, os serviços secretos americanos já demonstraram que podem interferir na Venezuela sob as barbas das forças de segurança quando retiraram da embaixada da Argentina, sob custódia do Brasil, os cinco opositores venezuelanos continuamente assediados e ameaçados. A operação foi em maio e pouco se falou sobre o assunto depois disso. O governo brasileiro, a quem competia guardar os exilados, manteve total silêncio.

O governo Trump obviamente está mais envolvido – e acionando seus aliados. Dois países governados pela direita, Paraguai e Equador, seguiram o exemplo americano e declararam que o Carlos dos Sóis é uma organização terrorista. O cartel faz a ponte entre o regime, incluindo altas patentes militares, e o tráfico. Os detalhes dessa colaboração foram extensamente relatados por ninguém menos do que Joaquín Guzmán, o notório El Chapo, condenado para toda vida a pena que cumpre na penitenciária de segurança máxima do Colorado.

Sucessivos governos americanos seguiram a mesma tática: identificar e bloquear os bens de figurões venezuelanos, esmiuçar suas ligações com o tráfico através de criminosos mexicanos extraditados, aplicar sanções econômicas ao regime chavista. Donald Trump parecia resignado a seguir o mesmo modelo e até fez algumas concessões para conseguir retirar do país cidadãos americanos encarcerados. Essa fase, porém, parece ter se esgotado.

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DRONES PROIBIDOS

No plano geopolítico, a Venezuela é um campo de ação aberto à influência da China, a maior preocupação dos Estados Unidos. Nesse sentido, ficaram marcadas as palavras fortes usadas pelo chefe do Comando Sul, almirante Alvin Holsey, numa conferência sobre segurança realizada em Buenos Aires.

“Sua presença e influência têm consequências de grande alcance em todos os domínios, particularmente no Cone Sul, onde rotas marítimas vitais, como o Estreito de Magalhães ou a Passagem de Drake, funcionam como gargalos estratégicos que podem ser usados pelo Partido Comunista Chinês para projetar poder, interromper o comércio e desafiar a soberania de nossas nações ou a neutralidade da Antártica”, disse Holsey, usando termos excepcionalmente diretos.

O jogo está ficando mais pesado, em vários teatros de ação, inclusive no México, o paraíso dos cartéis. Talvez Maduro não tenha sido tão exagerado ao proibir o uso, a venda e a fabricação de drones por trinta dias. E talvez aviões estranhos cruzando os ares não sejam tão estranhos assim. E aquele zumbido que prenuncia um míssil não pode ser inteiramente descartado.

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