counter Paz em Gaza está próxima? O que dizem especialistas sobre o potencial do plano Trump – Forsething

Paz em Gaza está próxima? O que dizem especialistas sobre o potencial do plano Trump

O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de um plano de 20 pontos para o fim da guerra em Gaza gerou uma profusão dúvidas se, de fato, a paz no enclave palestino está próxima. De um lado, Trump e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyhu, colocam à mesa uma proposta com pouco espaço de negociação para o Hamas e prometem, caso os militantes rejeitem a ideia, continuar com os bombardeios a todo vapor; do outro, o grupo radical afirma que o texto é “totalmente parcial” ao governo israelense.

“O aceite desta proposta significa a morte política do Hamas. É uma capitulação completa. Se aceitar, é porque chegou ao seu limite”, disse Luís Winter, professor de direito internacional da PUCPR, a VEJA.

“Em relação aos outros acordos de paz na região, como Oslo, desta vez Israel negocia de uma posição infinitamente mais forte — pelo seu desenvolvimento militar nas últimas décadas, pelo interesse de países árabes na aproximação para negócios, pelo grau de fragilidade do Hamas, mas principalmente por causa do apoio inabalável dos EUA”, concluiu ele.

O diretor do Centro de Política do Oriente Médio do think tank americano Brookings, Natan Sachs, salientou que a perspectiva do acordo é que Israel venceu o conflito, mas contrapôs: “Há, é claro, um fundo de verdade nisso, mas uma olhada no mapa da Visão basta para perceber a farsa que isso representa. O Estado palestino seria completamente cercado por território soberano israelense (incluindo as águas territoriais de Gaza, permanentemente) e dividido em pelo menos seis blocos principais de terra, conectados por rodovias”, escreveu.

“Claro, é fácil, e correto, descartar esse plano dizendo que qualquer futuro presidente democrata provavelmente o abandonará, adicionando-o a uma longa lista de planos fracassados. Mas isso traz pouco consolo para quem espera um movimento real em direção à resolução do conflito”, continuou ele.

Continua após a publicidade

A pesquisadora sênior do Centro de Políticas para o Oriente Médio do Brookings também indicou que o governo dos EUA “deixou claro que planeja reconhecer a soberania israelense sobre todas as terras indicadas para os israelenses no mapa de Trump, independentemente de os palestinos aceitarem ou não”, acrescentando: ” Isso torna o plano de Trump um resultado imposto”.

David Makovsky, da organização independente de pesquisa The Washington Institute, também enxergou o plano a partir do ceticismo. Ele professor é estudos sobre o Oriente Médio na Universidade Johns Hopkins e atuou no Departamento de Estado e no governo de Barack Obama como assessor sênior do enviado especial para as negociações entre Israel e Palestina.

“O plano atual de 20 pontos não fala sobre a solução de dois Estados. Fala sobre um diálogo pela paz e coexistência. Mas, sabe, no Oriente Médio, sempre que é tudo ou nada, não é nada”, afirmou ele à rádio americana WUNC, mas ponderou que, se implementado, o acordo “traria o fim imediato da guerra que o mundo tanto desejava, a libertação dos reféns, um aumento repentino da ajuda a Gaza, e começaria a reconstruir Gaza, que está em ruínas”.

Continua após a publicidade

“Fecharia a porta à anexação e ao deslocamento israelenses. Colocaria ênfase na reforma palestina. Acho que alcançaria muitos objetivos, mas se alguém quiser analisar este plano e achar que ele alcançaria todos os objetivos, acho que dirá que ele é insuficiente. E há questões em aberto aqui, que são a relação entre o desarmamento e as Forças de Defesa de Israel (IDF), a retirada gradual do exército israelense de Gaza. Portanto, nem tudo está definido”, analisou Makovsky.

O professor de Estudos de Mídia no Instituto de Pós-Graduação de Doha, Mohamad Elmasry, avaliou que “o plano de 20 pontos de Trump para a “paz” é um apelo à rendição palestina”, explicando: “A proposta promete a interrupção imediata dos combates, a libertação de centenas de palestinos e dezenas de israelenses reféns e um compromisso de que os palestinos permaneçam em Gaza. Apesar dessas características aparentemente positivas, o plano é altamente centrado em Israel — um plano israelense disfarçado de diplomacia americana — e é lido como uma exigência de rendição palestina, em vez de um apelo genuíno por paz”.

+ Entenda os principais pontos do plano de paz de Trump para Gaza

Reação internacional

De modo geral, o plano de Trump foi bem recebido pela comunidade internacional, até mesmo por países que recentemente reconheceram o Estado da Palestina a contragosto de Israel. O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, pediu ao Hamas para que concordasse com a proposta e “acabasse com a miséria” em Gaza. O coro foi reforçado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, que destacou que o grupo palestino radical não tinha escolha a não ser “seguir este plano”.

Continua após a publicidade

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, um grande crítico da catástrofe humanitária em Gaza, também recebeu “com satisfação a proposta de paz apoiada pelos EUA para Gaza” e fez um apelo: Temos que pôr fim a tanto sofrimento. “É hora de a violência cessar, de todos os reféns serem libertados imediatamente e de a ajuda humanitária ter acesso à população civil. A solução de dois Estados, com Israel e Palestina vivendo lado a lado em paz e segurança, é a única solução possível”.

Por sua vez, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, encorajou “todas as partes a aproveitarem esta oportunidade agora”, ao passo que o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, definiu o documento como a “melhor chance” de encerrar a guerra, às vésperas de completar dois anos. Veteranos diplomáticos dos governos de Barack Obama e Joe Biden, ex-presidentes democratas, também o descreveram como um “bom acordo”, de acordo com a agência de notícias Reuters.

Brett McGurk, ex-membro do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, indicou que, com o apoio israelense e de países árabes e islâmicos à proposta, “toda a pressão internacional deve agora recair diretamente sobre o Hamas”. O embaixador de Obama em Israel, Dan Shapiro, afirmou que o plano de Trump é “confiável”, embora detalhes ainda precisem ser estabelecidos, acrescentando: “O próximo passo é fazer com que o Hamas o aceite, o que exige forte pressão do Catar e da Turquia”.

Continua após a publicidade

Em declaração conjunta, os ministros das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Catar, Egito, Jordânia, Indonésia, Paquistão e Turquia frisaram “sua prontidão para se envolver de forma positiva e construtiva com os Estados Unidos e as partes para finalizar o acordo e garantir sua implementação, de uma maneira que assegure paz, segurança e estabilidade para os povos da região”.

A Autoridade Palestina (AP) saudou os “esforços sinceros e determinados do Presidente Donald J. Trump para acabar com a guerra em Gaza e afirma sua confiança em sua capacidade de encontrar um caminho para a paz”. Em contrapartida, o ministro de Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, de extrema direita, condenou a iniciativa e a descreveu como uma “oportunidade perdida”, opinando: “Terminará em lágrimas. Nossos filhos serão forçados a lutar em Gaza novamente. Vamos consultar, considerar e decidir, se Deus quiser. Mas as comemorações desde ontem são simplesmente absurdas”.

 

Publicidade

About admin