O parlamentar israelense Ofer Cassif foi retirado à força do pódio do Knesset, o Parlamento de Israel, durante sessão plenária na segunda-feira, 4, ao denunciar a crise humanitária em Gaza e o que definiu como genocídio contra os palestinos.
Durante fala, Cassif citou declarações feitas pelo escritor israelense David Grossman em entrevista ao jornal italiano La Repubblica na semana passada, na qual o novelista reconheceu, “com imensa dor e coração quebrado”, que Israel comete “genocídio” em Gaza”.
Em seguida, o parlamentar disse: “Por anos me recusei a usar o termo genocídio. Mas agora, depois das imagens que vimos e depois de conversar com pessoas que estavam lá, não posso mais evitar”.
אמש, במהלך נאומי לזכר נרצחי טבח שפרעם לפני 20 שנה, הורדתי באלימות מדוכן הנואמים באמצע דבריי, רק משום שציטטתי את דבריו של הסופר הישראלי דוד גרוסמן נגד הג’נוסייד בעזה.
אפילו סופרים ביקורתיים כבר אסור לצטט בפרלמנט של הדמוקרטיה היחידה במזה”ת.
בפרפראזה להיינה: במקום שבו אוסרים לצטט… pic.twitter.com/wwifu5OgyM
— Ofer Cassif עופר כסיף عوفر كسيف (@ofercass) August 5, 2025
A sessão era presidida pelo vice-presidente do Knesset, Nissim Vaturi, que interrompeu Cassif, afirmando que “isso não é uma citação, é inventado”. Em seguida, ele exigiu que Cassif fosse removido do pódio, seguido pelo membro do Likud, Tali Gottlieb, que gritou: “Ele não dirá ‘genocídio’ aqui!”, antes que os assistentes do Knesset removessem fisicamente Cassif do pódio.
Em publicação nas redes sociais após o caso, Cassif disse: “Nem mesmo escritores críticos podem mais ser citados no parlamento da única democracia do Oriente Médio. Parafraseando Heine: onde citar autores é proibido, os opositores do regime também serão eventualmente banidos”.
No ano passado, o deputado já havia sido banido de participação em comitês do Parlamento durante seis meses depois de queixas devido à sua posição sobre a crise em Gaza — na ocasião, ele descreveu palestinos como “lutadores pela liberdade” e afirmou que sua responsabilidade é estar “com as vítimas em todo e qualquer lado, não importa quem são”.
Controle de Gaza
A remoção do parlamentar se deu em meio ao anúncio do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de convocação do gabinete para passar “instruções” sobre a continuação da guerra em Gaza. Em paralelo, a emissora israelense i12 afirmou que o premiê já decidiu tomar controle total da Faixa de Gaza, segundo reportagem com base em fontes do governo do país.
Oficialmente, Netanyahu afirma que as instruções focam na “maneira de alcançar os três objetivos de guerra”. Segundo ele, os objetivos são “derrotar o inimigo, libertar nossos reféns e garantir que Gaza deixe de ser uma ameaça para Israel”.
Sob essa justificativa, Netanyahu deve anunciar a expansão da ofensiva na terça-feira, segundo a emissora. A decisão, mostra a reportagem, foi tomada após o fracasso das negociações por um acordo de cessar-fogo que devolvesse os reféns israelenses ainda sob poder do Hamas.
Atualmente, as Forças de Defesa de Israel controlam aproximadamente 75% da Faixa de Gaza. Sob o novo plano, espera-se que os militares ocupem também o território restante, colocando todo o enclave sob controle israelense. Não está claro o que tal medida significaria para os milhões de civis e grupos humanitários que operam no enclave.
As fortes restrições a insumos básicos impostas por Israel também vêm causando fome generalizada na região. Segundo um relatório avalizado pela ONU, 93% da população está em estado de vulnerabilidade alimentar e 244 000, em situação “catastrófica”. O fornecimento de mantimentos foi transferido a uma empresa americana apoiada por Israel e Estados Unidos — a GHF, criticada pela inexperiência e pelo viés militarizado da missão que encabeça.
Na semana passada, duas importantes ONGs israelenses, a B’Tselem e a Médicos pelos Direitos Humanos, divulgaram relatórios classificando as ações do governo como “política genocida” em Gaza. Foi a primeira vez que grupos israelenses usaram esse termo publicamente, intensificando a pressão interna.