Donald Trump exultou ao anunciar o cessar-fogo: “Gostaria de congratular os dois países, Israel e Irã, por terem perseverança, coragem e inteligência para terminar o que pode ser chamado de Guerra dos Doze Dias. É uma guerra que poderia ter continuado e destruído todo o Oriente Médio, mas não continuou. Deus abençoe Israel, Deus abençoe o Irã, Deus abençoe o Oriente Médio, Deus abençoe os Estados Unidos da América e Deus abençoe o mundo!”.
É típico da retórica exagerada do presidente, mas até para os descrentes parece que Deus realmente estava fazendo hora extra. As possibilidades de que as coisas dessem errado foram intensamente cogitadas até o cessar-fogo, e não sem razão.
A pior seria um envolvimento mais prolongado e generalizado dos Estados Unidos em outra “guerra sem fim”. Provavelmente acabaria com o governo Trump e teria efeitos deletérios para a economia mundial. Contrariando os inimigos, e até uns amigos da turma MAGA, o presidente agiu com pleno conhecimento de causa. Fez uma operação cirúrgica sem precedentes e deu o assunto por encerrado. Relevou o ataque iranianos contra bases no Catar e no Iraque – e até agradeceu o Irã por ter avisado antes. Seria um fora tremendo, uma humilhação adicional a tantas que o regime iraniano sofreu. Mas, no fim, acabou dando certo.
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Benjamin Netanyahu também relevou o ataque final, que matou cinco pessoas. “O Estado de Israel conseguiu sucessos históricos e se colocou entre as grandes potências do mundo”, comemorou. “Israel removeu uma ameaça existencial imediata em duas frentes: no domínio nuclear e no campo dos mísseis balísticos”;
Os feitos de Israel foram realmente impressionantes, aturdindo o Irã com ataques simultâneos que mostraram amplo controle operacional e um trabalho de inteligência sem precedentes.
URÂNIO ESCONDIDO
A estrutura de defesa também mostrou uma eficiência que salvou centenas, talvez até milhares de vidas. O sistema de mísseis interceptadores deixou passar apenas 10% dos mísseis disparados pelo Irã e a rede de abrigos antiaéreos mostrou porque o país investiu tanto nela. Dos 28 mortos no total, apenas dois estavam num abrigo que não resistiu a um impacto frontal.
A assimetria ficou clara desde o início. Israel atacou instalações nucleares, generais da cúpula militar e cientistas envolvidos com a produção da bomba iraniana. Em um dia, conseguiu a supremacia aérea. O Irã destruiu prédios de apartamentos. Não se ganha uma guerra assim.
Depois de passarem os doze dias dizendo que Israel ia se dar mal, Trump se afundaria em outros atoleiro no Oriente Médio e o Irã demonstraria ser uma potência de fato, não de papel, como se viu, agora a torcida dos que querem ver os Estados Unidos tropeçarem se concentra em dizer que o programa nuclear bélico será rapidamente retomado e o urânio enriquecido foi escondido num lugar secreto.
O nível de informação que Israel demonstrou ter enfraquece esta hipótese, mas não é impossível que tenha alguma medida de verdade. Se tiver, inexoravelmente Israel ficará sabendo.
Ter sobrevivido foi o maior feito do regime iraniano e é garantido que iniciará um programa de rearmamento para repor os estoques de mísseis. E talvez pensar num sistema melhor. O que tem, não funcionou.