Não são só os seres humanos que engordaram bastante nos últimos anos. Os pets seguiram a tendência dos donos. Hoje se estima que metade dos animais de estimação esteja acima do peso. Já que emagrecer pode ser um desafio inclusive para eles, será que medicamentos similares ao Ozempic e ao Mounjaro funcionariam para gatos e cães?
A ideia é tentadora e já existem cientistas e veterinários trabalhando em cima dela. Não se trata de comprar um análogo de GLP-1 aprovado para gente como a gente na farmácia e aplicar nos bichos. A proposta é criar e estudar remédios com esse princípio ativo especialmente destinados a eles.
Os gatos parecem ser o primeiro alvo dessa iniciativa. Já existem pesquisas, inclusive no Brasil, testando doses de análogos de GLP-1 em felinos. Demanda existe, inclusive do ponto de vista clínico. Calcula-se que mais de 50% desses animais estejam com excesso de peso.
Mas o pulo do gato (com o perdão do trocadilho) vem de uma farmacêutica americana, a Okava, que anunciou um estudo piloto com microimplantes contendo a medicação para felinos com obesidade. Em vez de canetas de aplicação diária ou semanal, como acontece entre os humanos, os bichanos recebem uma espécie de chip na pele que libera a medicação ao longo de seis meses.
Os veterinários envolvidos no projeto, que testa uma substância chamada exenatida, estão empolgados. E os resultados são esperados para o início de 2026. A expectativa é que, se der certo neste e em outros experimentos, os análogos de GLP-1 deem início a uma revolução também no tratamento da obesidade animal.
À espera da ciência
No Brasil, veterinários ligados a centros de pesquisa já começaram a fazer estudos com as medicações da família Ozempic em gatos. Na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), eles testaram doses de liraglutida, uma droga de uso diário, em gatos obesos e, em duas semanas, os animais chegaram a perder quase 10% do peso, em média.
No entanto, os efeitos colaterais foram expressivos. Houve relatos de vômito, diarreia e fadiga, e alguns bichos ficaram completamente sem interesse pela comida. Uma das hipóteses é que, embora os cientistas tenham utilizado uma dose pequena da caneta projetada para humanos, proporcionalmente ela parece ser potente demais para os gatos.
A mesma equipe da UFU também avaliou as injeções semanais como a semaglutida. A perda de peso girou em torno de 4 a 7% em quase um mês de uso e foram observadas bem menos reações adversas.
Outros experimentos mundo afora estão em curso e os resultados soam promissores, embora existam diversas ponderações e dúvidas em jogo. Mas tudo leva a crer que formulações específicas devem ser desenvolvidas para animais a fim de garantir a segurança e a eficácia esperadas.
Além da Okava, outros laboratórios entraram nessa corrida e é de imaginar que novos princípios ativos e formas de administração surjam em caráter experimental muito em breve.
A questão é que será preciso aguardar as conclusões desses estudos controlados e o aval das agências regulatórias para tirar proveito da novidade. Aí, sim, será inaugurada oficialmente a era dos “ozempets”.
Por ora, existem relatos de veterinários que utilizaram as medicações de uso humano em consultório para tentar ajudar cães e gatos acima do peso e diabéticos. Mas são usos off label, ou fora da bula, e não isentos de risco, uma vez que esses remédios foram concebidos para humanos.
Assim, no momento nenhum especialista ou entidade veterinária endossam esse recurso para emagrecer nossos amigos peludos.