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Os verdadeiros superalimentos e a redescoberta dos tesouros nutricionais

Reza a lenda, contada entre os hassídicos da Europa Oriental, que um homem chamado Eizek, morador de Cracóvia, sonhava todas as noites com um tesouro enterrado embaixo de uma ponte em Praga. Depois de insistentes repetições do sonho, decidiu ir até lá. Ao chegar, encontrou um soldado que, por coincidência, lhe contou uma história curiosa: também sonhava com um tesouro, mas escondido no quintal de um tal de… Eizek, em Cracóvia. O homem voltou para casa, cavou o terreno e, claro, encontrou o que procurava.

Não há registro preciso de quando essa narrativa começou a circular, mas acredita-se que tenha surgido por volta de 1 700, no início da tradição oral do judaísmo hassídico. O ponto é que ela continua servindo como “luva” para diversos contextos atuais — inclusive o da alimentação. No mercado, não param de surgir ingredientes “milagrosos” embalados como “superalimentos”, muitas vezes importados e caros, anunciados como superiores e de alto valor nutricional. É o pó do Himalaia, o “blend” de folhas verdes, o suplemento americano, o fruto colhido em algum ponto remoto da Amazônia e por aí vai.

Para especialistas como o ativista americano Ocean Robbins e a nutricionista Nichole Dandrea-Russert, autores do livro Os Verdadeiros Superalimentos, a salvação está muito mais na simplicidade do que no glamour desses elixires criados em laboratórios de ponta. Lançado recentemente no Brasil pela editora Cultrix, o best-seller americano critica a corrida por alimentos da moda e propõe um retorno ao básico: ingredientes comuns, nutritivos, acessíveis e minimamente processados — muitos já presentes no dia a dia do brasileiro, mas subestimados, como alho, batata-doce, cogumelos, couve e o clássico arroz com feijão, que vem perdendo espaço no prato nos últimos tempos.

Os verdadeiros superalimentos

 

“Se o seu objetivo é simplesmente viver uma vida longa e saudável — ou até esperar que o Vale do Silício descubra o segredo da imortalidade (…), uma dieta rica em verduras já pode fazer uma grande diferença”, escreve Robbins, que, curiosamente, é neto do fundador da multinacional americana de sorvetes Baskin-Robbins (embora nunca “tome” sorvetes).

A mensagem do livro ecoa recomendações já conhecidas no Brasil, como as do Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, que desde 2006 aconselha: “Coma comida de verdade. Evite alimentos ultraprocessados.” Para o epidemiologista e professor Carlos Monteiro, da USP — responsável por cunhar o termo “ultraprocessados” —, valorizar a alimentação tradicional, preparada na cozinha, aquela que hoje chamamos de “comida de vó”, é a verdadeira fórmula para resgatar saúde e bem-estar em meio ao avanço dos industrializados.

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O que torna Os Verdadeiros Superalimentos especialmente interessante é que, além de examinar com lupa a lógica de mercado e as tendências nutricionais (por vezes chamadas de “alimentos funcionais”), a obra se apropria dessa mesma lógica para subvertê-la. Robbins dá nomes criativos e quase “mágicos” às receitas, mas o encanto está no fato de serem feitas com ingredientes simples, nutritivos e acessíveis. Mais do que um manual, o livro funciona como um mapa de possibilidades: Wrap Rock’n’Rollinhos de Lentilhas, Muffin Facinho de Tofu, Kitchari de Couve-Flor e Lentilhas… títulos que soam sofisticados, mas cujos ingredientes estão ao alcance de qualquer feira de final de semana.

“E como Eizek, depois de revirar o globo — ainda que virtualmente — atrás dos alimentos mais fantásticos, capazes de promover saúde, garantir longevidade e oferecer vigor, descobrimos que tínhamos, o tempo todo, tesouros no nosso próprio quintal”, escreve o autor.

Com a palavra, Ocean Robbins.

O termo “superalimentos” se tornou uma tendência e aparece em muitos rótulos. Mas o que de fato diferencia um superalimento real do mero exagero de marketing?

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Um verdadeiro superalimento não tem a ver com exagero — tem a ver com nutrição. É um alimento genuinamente repleto de nutrientes que apoiam sua saúde e vitalidade. Em ‘Os Verdadeiros Superalimentos’, eu os defino como alimentos ricos em nutrientes, acessíveis e respaldados por ciência confiável.

Muitos produtos colocam o termo “superalimento” no rótulo, mas só porque algo tem um pouco de matcha ou açaí não significa que seja um elixir de saúde — especialmente se estiver carregado de açúcar ou ingredientes ultraprocessados. Para mim, superalimentos reais são ingredientes do dia a dia, como brócolis, frutas vermelhas ou lentilhas. Eles não precisam de uma campanha de marketing. Seu poder está na simplicidade — e no impacto que causam no seu corpo.

Por que, apesar de serem considerados acessíveis, estamos consumindo cada vez menos “superalimentos”? Quais são as verdadeiras barreiras para ter acesso e incorporar esses alimentos na nossa dieta diária?

Uma grande razão é o crescimento dos alimentos ultraprocessados. Eles são projetados para serem hiperconvenientes e viciantes — e dominaram nossas prateleiras de supermercado, lancheiras e hábitos.

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No livro, eu falo sobre como muitos dos alimentos mais saudáveis — como aveia, feijão, cenoura ou verduras — são, na verdade, acessíveis e amplamente disponíveis. Mas, mesmo sendo acessíveis, eles muitas vezes perdem espaço para alternativas mais chamativas, rápidas e altamente processadas. Some-se a isso mensagens confusas sobre nutrição, falta de tempo e até desertos alimentares em algumas comunidades, e fica fácil entender por que tantas pessoas não comem os alimentos que podem ajudá-las a prosperar.

Não se trata apenas de força de vontade individual. É sobre um sistema alimentar — e, muitas vezes, uma cultura — que nos afasta do que nosso corpo realmente precisa.

Os alimentos ultraprocessados são mesmo os vilões da alimentação saudável? Há espaço para algum tipo de equilíbrio ou o ideal seria eliminá-los completamente?

Os alimentos ultraprocessados não são apenas “vilões” no sentido moral — eles são um risco à saúde por causa de como são feitos e do que substituem. Frequentemente contêm aditivos artificiais, açúcares refinados, gorduras degradadas e pouca ou nenhuma fibra ou nutrientes reais. Eles podem sequestrar nossas papilas gustativas, bagunçar o metabolismo e contribuir para doenças crônicas.

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Dito isso, não estou aqui para envergonhar ninguém. Eu acredito em progresso, não em perfeição. Em Os Verdadeiros Superalimentos, incentivo as pessoas a “substituir” a comida ruim adicionando mais alimentos reais e nutritivos — porque, quando seu prato está cheio de coisas saborosas e saudáveis, sobra naturalmente menos espaço para os ultraprocessados. Não se trata de ser perfeito, mas de caminhar na direção da saúde, um passo de cada vez.

Se você pudesse escolher apenas um “superalimento”, qual seria? E por quê?

Difícil escolha! Se tivesse que escolher apenas um, eu ficaria com a batata-doce. Ela é incrivelmente nutritiva, versátil, acessível e fácil de amar. Eu costumo chamá-la de “potência nutricional em uma embalagem humilde” — e por uma boa razão.

A batata-doce é rica em fibras, betacaroteno, antioxidantes e carboidratos complexos que ajudam a manter a energia estável. Também é um alimento básico em algumas das culturas mais longevas do planeta — como a dos okinawanos — onde ela tem sido um pilar da dieta por gerações.

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Você pode assá-la, amassá-la, colocá-la em sopas ou até apreciá-la no café da manhã. É um alimento de conforto que realmente conforta o corpo, não apenas o paladar.

Quais são as estratégias mais eficazes para reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e apostar em verdadeiros “superalimentos”?

Comece adicionando mais alimentos reais que você ama. Quando você encontra um café da manhã, um lanche ou um jantar que faz bem e é saboroso, fica muito mais fácil deixar de lado aquilo que não serve para você.

E: não faça isso sozinho. No livro, enfatizo a importância da comunidade, dos hábitos e da alegria. Cerque-se de pessoas que apoiam sua jornada. Torne a comida saudável divertida. E prepare o terreno para o sucesso: prepare refeições com antecedência, mantenha opções saudáveis visíveis e fáceis de pegar, e encontre maneiras de tornar a comida real mais conveniente.

E lembre-se: cada passo importa. Você não precisa fazer tudo de uma vez. Apenas continue se movendo em direção à comida — e à vida — que ajuda você a prosperar.

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