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Os sinais da crise com o Congresso que o governo Lula ignorou

 

A piora visível da relação do governo com o Senado não surgiu de surpresa. Ela segue uma lógica que a coluna já apontava na semana passada: sinais claros de desgaste que o Planalto insistiu em tratar como ruído.

A nota dura de Davi Alcolumbre, ao reclamar da “perplexidade” com a demora no envio da mensagem de indicação de Jorge Messias ao STF, apenas deu forma pública a um movimento que vinha se acumulando nos bastidores e agora atinge seu ponto de tensão mais alto.

A frase de que o atraso “parece buscar interferir indevidamente no cronograma exclusivo do Senado” não é apenas crítica; é uma advertência institucional.

A coluna lembrou recentemente que a ruptura entre Hugo Motta e Lindbergh Farias havia elevado perigosamente a temperatura política no Congresso.

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Como analisamos, gestos públicos de lideranças da Câmara e do Senado não são desentendimentos pontuais, mas mudanças de patamar. E, sobretudo em momentos de transição e expectativa eleitoral, o Legislativo costuma interpretar o tempo político antes do Executivo.

É exatamente isso que se vê agora no Senado. A irritação de Alcolumbre não nasce apenas da escolha de Messias, embora o nome tenha contrariado preferências internas. O que desagrada é o método: a demora do Planalto em cumprir o rito, a impressão de improviso e a tentativa de administrar o cronograma como se fosse extensão do Executivo.

O que circula em Brasília é que Lula chegou a considerar entregar pessoalmente a mensagem presidencial para tentar conter o desgaste, sinal de que o Planalto percebeu a gravidade da situação.

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A própria hesitação, somada ao desconforto real com a possibilidade de derrota por até cinquenta votos, revela que a articulação política não apenas falhou em antecipar o conflito, como permitiu que ele se amplificasse.

O problema é mais amplo. O governo perdeu tração simultaneamente nas duas Casas. Na Câmara, a crise entre Motta e Lindbergh expôs que o Planalto subestimou os atritos internos. No Senado, Alcolumbre opera com autonomia crescente e deixou claro que não aceitará condução errática sobre uma prerrogativa constitucional da Casa.

O pano de fundo é simples: o Congresso está se movendo antes do governo e não ao seu ritmo. Em um ano pré-eleitoral, o Legislativo age para proteger sua força institucional e reage mal quando o Executivo tenta contornar ritos ou protelar decisões.

A única certeza no momento é que o governo terá de recompor relações para impedir que este episódio se torne o primeiro de uma série de desgastes maiores. Se perder a votação, o estrago será político e simbólico. Será a comprovação de que o Planalto não leu nem respeitou o tempo do Congresso. E, como já mostramos, quando os sinais não são laterais, mas centrais, ignorá-los nunca termina bem.

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