Bajulação e presentes em troca de investimentos. De acordo com o jornal americano The Washington Post, esse tem sido o tom da relação entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os principais CEOs da indústria tecnológica. Nomes como Tim Cook, da Apple, e Sam Altman, da OpenAI, conseguiram alcançar parcerias importantes com a Casa Branca por meio de uma proximidade aduladora nos bastidores.
“Executivos que há muito terceirizam a prática confusa de fazer lobby aprenderam que, muitas vezes, a melhor maneira de moldar as políticas de Trump é por meio de um telefonema tarde da noite para o presidente ou uma visita a um de seus resorts de golfe”, afirma a publicação.
A quantidade relevante de decretos presidenciais e isenções favoráveis às Big Techs que emanam de Washington passa longe de ser ignorada pelas bolas de valores, que recompensam as corporações próximas ao presidente com avaliações recordes.
A primeira empresa a se beneficiar de uma boa relação com Trump foi a Apple, ainda no primeiro mandato do republicano. Na quarta-feira, 6, o presidente anunciou, ao lado de Tim Cook, o investimento de mais de 100 bilhões de dólares para que a empresa fabrique partes do iPhone em território americano.
“Você tem sido um grande defensor da inovação e fabricação americanas, e sou grato por sua liderança e seu compromisso”, disse Cook. O CEO ainda presenteou Trump com uma placa de vidro com o nome do presidente, o logo da Apple e uma frase em inglês “Feito nos EUA, 2025”, representando os planos da empresa em transferir a fabricação de vidro de alta tecnologia para seus produtos até o país.
Em sua primeira coletiva de imprensa após tomar posse, em janeiro, Trump teve três executivos importantes ao seu lado: Sam Altman, da OpenIA, Larry Ellison, da Oracle, e Masayoshi Son, do SoftBank. Em conjunto, revelaram o investimento de 100 bilhões de dólares para que data centers de IA fossem instalados no país.
“Não seríamos capazes de fazer isso sem você, Sr. Presidente”, elogiou Altman na ocasião. Até o momento, somente um data center foi entregue, mas a administração Trump vem emitindo ordens executivas amigáveis às empresas da IA ao longo dos meses que se seguiram.
Outra empresa que vem aproveitando as benesses da bajulação é a Nvidia. Inicialmente alvo de uma possível “fragmentação” por parte do presidente, a empresa se beneficiou da rápida proximidade de seu CEO, Jensen Huang, com Trump.
O executivo passou a frequentar a Casa Branca e Mar-a-Lago, o resort de Trump na Flórida, e foi presenteado com uma permissão à Nvidia para comercializar chips de computador H20 junto à China, mesmo com preocupações relacionadas à segurança nacional por parte de autoridades.
Responsáveis por grandes doações para o fundo de posse de Donald Trump, CEOs de empresas como Facebook, Amazon e Google também receberam alguns benefícios por sua posição como aliados do presidente. Boa parte deles diz respeito à obstrução de possíveis investigações policiais.
Quem também fez lobby junto ao mandatário foi o CEO do TikTok, Shou Zi Chew. Nas celebrações da posse de Trump, Chew estava presente na Rotunda do Capitólio, junto de um seleto número de convidados de honra. Os frutos da relação foram vistos meses depois, quando o presidente assinou ordens executivas que adiavam a possível proibição da rede social chinesa.
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No entanto, o presidente não tem o menor pudor de usar sua influência para atingir seus opositores. Isso fica bem claro no desenrolar da relação de Trump com o CEO da Tesla, Elon Musk. Inicialmente apresentado como um parceiro importante da gestão Trump, Musk foi amplamente elogiado pelo mandatário, chegando a receber uma declaração de apoio pública quando as ações da Tesla registraram queda nas bolsas.
“Elon está se colocando em risco para ajudar nossa nação, e está fazendo um trabalho fantástico”, disse Trump no dia 11 de março, em uma publicação no Truth Social. Na sequência, o presidente prometeu comprar um veículo da Tesla no dia seguinte, o que de fato aconteceu no dia seguinte, com a Casa Branca se transformando em um salão de exibição para o Tesla Model S.
No entanto, após um rompimento público em junho, Washington ameaçou Musk com a revogação de contratos e subsídios do governo que beneficiavam seus negócios. Apesar de um recuo posterior, Trump sancionou uma legislação que eliminava subsídios fiscais para veículos elétricos em julho.