O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados deve retomar nesta quarta-feira (22) a votação do parecer que pode arquivar o processo disciplinar contra Eduardo Bolsonaro (PL–SP).
O PT acusa o parlamentar de comportamento incompatível com o decoro, por supostas articulações e declarações feitas nos Estados Unidos, em meio a um ambiente diplomático turbulento entre Brasília e Washington. O relator do caso, deputado Marcelo Freitas (União–MG), defendeu o arquivamento da denúncia, argumentando que as ações atribuídas a Eduardo “não configuram quebra de decoro”. O parecer, porém, dividiu o colegiado e três deputados — João Daniel (PT–SE), Dimas Gadelha (PT–RJ) e Chico Alencar (PSOL–RJ) — pediram vista antes da votação. Com o prazo regimental encerrado, o texto volta à pauta nesta quarta, às 13h.
“Será uma sessão muito movimentada. É o primeiro item da pauta, e todos os deputados devem votar. O Conselho tem se comportado de maneira muito imparcial, e tenho certeza que será assim novamente”, disse o presidente do colegiado, Fábio Schiochet (União–SC), em entrevista ao programa Ponto de Vista, de VEJA.
Clima tenso e pano de fundo político
A sessão ocorre num momento político sensível para o governo e para o bolsonarismo. Enquanto Lula busca consolidar uma agenda de aproximação com Donald Trump, depois de anos de tensão diplomática, Eduardo Bolsonaro ainda enfrenta repercussões de sua atuação no exterior, que incluiu contatos com figuras do trumpismo e tentativas de interferir na relação entre os dois países.
O caso é tratado “com lupa política”, já que o presidente Lula tenta explorar as fissuras entre o governo americano e a direita brasileira. A aproximação recente entre Lula e Trump, elogiada pelo próprio ex-presidente americano, esvazia parte do discurso diplomático de Eduardo, que se apresentava como interlocutor da direita internacional.
“O Conselho não deve se pautar por pressões externas. O que estamos vendo é o colegiado atuando com isenção, sem ceder a clima político algum”, afirmou Schiochet, ao ser questionado sobre o impacto dessas movimentações diplomáticas nas decisões internas da Câmara.
Entre o arquivamento e a tensão
Se o relatório de Marcelo Freitas for aprovado, o processo será arquivado e o deputado sairá fortalecido dentro do PL — um alívio para a família Bolsonaro, que enfrenta uma série de desgastes políticos e judiciais. Caso o parecer seja derrubado, abre-se caminho para um novo relator e a reabertura do processo de cassação, o que acenderia um novo foco de crise na oposição.
Schiochet, no entanto, tenta manter o tom de neutralidade. “O colegiado tem se mantido equilibrado e técnico. A função do Conselho é preservar a instituição, não fazer política”, declarou.
O que vem a seguir
Além do caso de Eduardo Bolsonaro, o Conselho de Ética deve apreciar outros 19 processos nas próximas semanas, incluindo o que trata do motim de deputados bolsonaristas em agosto. A pauta sobrecarregada e o teor político das discussões transformaram o colegiado em um dos epicentros de tensão da Câmara.
O resultado da votação sobre Eduardo Bolsonaro pode funcionar como termômetro do ambiente político em Brasília — e indicar até onde vai a disposição dos deputados de proteger ou punir seus pares em um momento em que Lula avança com habilidade sobre o espaço simbólico da oposição.