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Os desafios no esporte para acolher atletas trans: política é um entrave

Em 2016, a jogadora de vôlei Tifanny Abreu, hoje com 40 anos, foi a primeira atleta trans a atuar no alto rendimento no Brasil. O marco na história do esporte brasileiro inspirou Rafael Marques Garcia a estudar sobre outras mulheres trans dentro dessa área. Doutor em Educação Física pela UFRJ, decidiu escrever um livro com relatos das esportistas, preconceito, falta de apoio, regras das federações e dificuldades durante a transição. A obra A trajetória de mulheres trans pelo esporte brasileiro (ed. UFRJ) conta com relato de esportistas do vôlei, MMA e judô.

Um dos principais obstáculos para o ingresso de atletas trans no meio é a dificuldade de se estabelecer critérios de quem pode ou não atuar em determinado esporte. Em modalidades de combate, as habilidades físicas mais importantes são diferentes das que têm a bola como principal objetivo do jogo. “Pode ser que, nas lutas, as mulheres trans, por conta de densitometria óssea, interfiram na força e golpes. Talvez lá tenha que ter outros critérios para você tentar equalizar, embora a gente já tenha alguns que tentem fazer isso. Mas é um campo que ainda precisa de atenção maior”, analisa Rafael. 

Em agosto, o presidente americano Donald Trump restringiu vistos de atletas trans em esportes femininos – elas não podem mais competir nos Estados Unidos. O país vai sediar as Olimpíadas em 2028 e aflige os esportistas que planejam estar no maior evento esportivo do mundo. “Vejo com muita preocupação a atuação desses grandes líderes conservadores, porque eles ditam todo o avanço que se conseguiu com essas políticas de inclusão, de reconhecimento da identidade da pessoa, do gênero, e elas demoram muito pra acontecer. E quando acontecem, para retroceder, é uma velocidade muito maior”, lamenta o pesquisador.

O esporte que, segundo Rafael, tem mais aceitação de mulheres trans é o vôlei, onde o público aceita melhor a “comunidade” dentro das quadras. Foi por causa da rara quantidade de pesquisas relacionadas a pessoas trans, que o escritor decidiu fazer o livro. “Optei por esse caminho para dar menção, visibilidade e ajudar o meu círculo social, para preencher uma lacuna no campo da educação física. Tentei, de alguma forma, utilizar meus privilégios, que me fizeram chegar naquela posição de doutorando, para levar esse tema aos meus pares cisgêneros, que pareciam não se importar ou invisibilizar o tema”. 

A lutadora Anne Viriatro, 28 anos, realizou a transição de gênero após adentrar o MMA, e mesmo assim decidiu continuar competindo com homens cis. O autor explica que ela tomou  a decisão, porque os hormônios influenciam no rendimento – e ela se sentia mais desafiada na modalidade. Tiffany Abreu, por outro lado, decidiu entrar para o time do vôlei feminino, tendo que seguir um acompanhamento muito mais rígido da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV). “No início, achava que as mulheres trans deveriam competir com mulheres cis. Ouvindo os relatos, vi que algumas querem competir com elas; mas outras não, querem continuar com homens cis. Desde então, passei a defender a seguinte ideia: a pessoa trans tem que competir onde ela se sinta acolhida e queira competir, desde que cumpra, claro, os requisitos estabelecidos”.

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