A ortopedia, especialidade que lida com a complexidade do movimento e da estrutura humana, sempre demandou máxima precisão no diagnóstico e no tratamento. Agora, esse campo está sendo revolucionado não por bisturis mais afiados, mas por bits e bytes. A integração de tecnologias como a inteligência artificial (IA), a impressão 3D, a realidade virtual e o metaverso está tirando a especialidade da sala de raios X e a colocando em um ambiente digital de alta fidelidade para garantir um futuro mais detalhista e com mais personalização.
O fim das surpresas cirúrgicas
Usamos a tecnologia para desvendar o que há de mais complexo na anatomia humana – imagine seu potencial ao mapear um osso fraturado ou uma articulação desgastada? Graças à IA, exames de imagem como tomografia e ressonância são agora rapidamente segmentados, ou seja, a máquina identifica e isola a lesão, a deformidade ou o tumor ósseo. Com esses dados em mãos, a tecnologia reconstrói modelos 3D digitais exatos, transformando uma imagem chapada em uma réplica virtual.
É aqui que a mágica acontece. O cirurgião ortopédico pode inserir esse modelo no metaverso ou usar óculos de realidade virtual para estudar a cirurgia virtualmente antes de operar de fato o paciente. O planejamento de colocação de uma prótese ou de uma cirurgia de tumor ósseo se torna um ensaio geral seguro e controlado. Essa simulação permite prever problemas de alinhamento, testar o tamanho ideal do implante e treinar toda a equipe. É o adeus ao “achismo” e o olá à previsibilidade máxima.
Além do virtual, a impressão 3D materializa a lesão do paciente em resina, permitindo que o médico a toque e compreenda as relações espaciais daquilo que vai encontrar na cirurgia. Essa réplica física é uma ferramenta de estudo inestimável que facilita decisões mais precisas.
Do padrão de fábrica à prótese sob medida
Historicamente, implantes ortopédicos eram produzidos em tamanhos padrão, obrigando o paciente a se adaptar ao produto. Com a tecnologia 3D, essa lógica está invertida. Entramos na era da personalização.
Eu penso que, um futuro visionário para a ortopedia é utilizar a IA para analisar a anatomia e a biomecânica (o movimento) do paciente e projetar próteses de quadril, joelho ou ombro que se encaixem perfeitamente. Em seguida, usar a impressão 3D para fabricar peças sob medida.
Para pacientes com tumores ósseos complexos, por exemplo, a tecnologia permite criar implantes personalizados que substituem a porção removida com uma precisão que a fabricação tradicional jamais alcançaria.
O adeus ao gesso quente e pesado
A inovação 3D chegou também ao tratamento mais básico: a imobilização. O tradicional gesso branco, pesado, que coça e não pode molhar está com os dias contados.
Com um simples escaneamento 3D da área fraturada e o auxílio da IA para otimizar o design, é possível imprimir talas e órteses leves, vazadas e sob medida. Chamados popularmente gessos 3D, eles oferecem ventilação, higiene e o mesmo suporte da imobilização, mas com conforto incomparável.
Acredito que, ao integrar o poder preditivo da inteligência artificial e a capacidade de materialização da impressão 3D, a ortopedia está deixando de ser uma especialidade dependente apenas da experiência individual. O resultado? Mais segurança, menos dor e uma recuperação mais rápida e eficaz para os pacientes. É o futuro do cuidado musculoesquelético e ele já está em três dimensões.
*Heron Werner, médico e especialista em inovação da clínica CDPI e do Alta Diagnósticos e responsável pelo laboratório de Biodesign Dasa/PUC-Rio