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Opioide mil vezes mais potente que morfina passa a circular ilegalmente e preocupa autoridades da saúde

Um grupo de opioides sintéticos extremamente potentes — conhecidos como nitazenos — tem ganhado espaço no mercado ilegal de drogas e chamado a atenção de pesquisadores e autoridades de saúde. Segundo um estudo publicado na Drug and Alcohol Review, sete variantes dessa substância foram identificadas em resíduos de seringas e outros materiais geralmente usados para consumo de drogas na Austrália. Os nitazenos são conhecidos por serem mil vezes mais potentes que a morfina, de 50 a 100 vezes mais potentes que o fentanil e cerca de duas vezes mais potentes que a heroína.

O levantamento, conduzido pela Universidade da Austrália do Sul em parceria com serviços estaduais de saúde, analisou 300 amostras de seringas, embalagens e filtros coletados em novembro e dezembro de 2024. Em 5% dos casos havia nitazenos, quase sempre misturados a outras drogas, como heroína, cocaína ou metanfetamina. Em dois casos, eles apareceram combinados à xilazina, um sedativo veterinário associado a overdoses graves e lesões graves de pele.

A preocupação é dupla: a potência alta dos nitazenos aumenta o risco de overdose mesmo em quantidades baixas, e muitos usuários sequer sabem que estão consumindo a substância. No estudo, mais de 80% das pessoas atendidas em emergências após intoxicação por nitazenos relataram não ter usado a droga de forma intencional. Ela costuma aparecer como adulterante, “batizando” outras substâncias ilícitas. Misturas assim podem ter diferentes objetivos, como potencializar o efeito da droga principal, reduzir custos de produção ou substituir substâncias mais caras ou difíceis de obter, como a heroína ou o fentanil.

Depressão respiratória e risco de morte

Entre as variantes de nitazenos detectadas estão metonitazeno, isotonitazeno e etonitazeno — todos opioides capazes de causar depressão respiratória, uma condição em que a respiração fica tão lenta e superficial que o corpo não recebe oxigênio suficiente, podendo levar à perda de consciência e até à morte em poucos minutos. O risco aumenta quando essas substâncias aparecem misturadas a estimulantes, como cocaína e metanfetamina, ou a sedativos, como a xilazina. Foi justamente a combinação com a xilazina que provocou episódios de overdose no País, resultando na morte de três pessoas no final de 2023.

Além disso, em alguns casos, comprimidos vendidos como oxicodona continham protonitazeno, e pós comercializados como metanfetamina ou GHB também estavam adulterados. A oxicodona é um opioide geralmente prescrito para dor intensa, e o GHB é usado para distúrbios do sono — mas ambos costumam ser consumidos ilegalmente como drogas recreativas.

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“O maior risco é o efeito surpresa”, afirma Cobus Gerber, autor sênior do estudo. “Quando alguém consome, por exemplo, cocaína ou metanfetamina adulterada com nitazenos, não espera uma reação típica de opioide e pode não ter tempo de buscar ajuda.”

O fenômeno não se restringe à Austrália. Casos semelhantes vêm sendo relatados nos Estados Unidos e na Europa, onde os nitazenos, criados originalmente na década de 1950 para uso médico — mas nunca aprovados —, ressurgiram no mercado ilegal impulsionados por laboratórios clandestinos. A diferença é que agora eles chegam mais diversificados e potentes, exigindo atenção redobrada de serviços de saúde, autoridades e usuários.

No Reino Unido, por exemplo, a medida tomada foi a classificação do nitazeno como droga de classe A, e qualquer pessoa flagrada fabricando ou fornecendo a droga pode ser condenada à prisão perpétua.

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Nitazeno já circula no Brasil

Em janeiro deste ano, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) divulgou um relatório sobre os riscos dos nitazenos. O estudo, elaborado em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), surgiu após o Brasil registrar um aumento no número de apreensões dessas substâncias. Para ter ideia, entre julho de 2022 e abril de 2023, 133 das 140 amostras de opioides apreendidas pela Polícia Civil de São Paulo estavam misturadas a nitazenos. Até então, a droga também havia sido detectada em Minas Gerais e Santa Catarina.

O metonitazeno foi a versão de nitazeno mais encontrada e, em 98,5% das amostras, estava presente na forma de fragmentos de ervas, indicando consumo por meio de fumo. Esse formato é geralmente associado a cocaína e a drogas K (substância sintética criada com o objetivo de simular os efeitos da maconha), sugerindo que, por aqui, usuários também podem estar consumindo nitazeno de forma não intencional.

Ainda em janeiro, a Polícia Federal usou um formulário especial para notificar novas substâncias à Anvisa e pediu que o nitazeno fosse incluído na lista de drogas proibidas. O pedido foi aceito. Com isso, a substância passou a ser considerada droga de uso proibido, o que tem implicações legais, com seu porte, venda ou distribuição podendo ser enquadrados como crime no direito penal.

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