As Nações Unidas divulgaram na noite de terça-feira 23 uma foto do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assistindo ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na 80ª Assembleia Geral.
Trump acompanhou todo o discurso de Lula em uma sala reservada atrás do Salão Nobre da Assembleia Geral, onde ocorre o debate dos líderes. Como o Brasil é tradicionalmente o primeiro país a discursar e os Estados Unidos, o segundo, essa dinâmica é normal.

Encontro marcado
Depois de Lula deixar o palco, quando o presidente americano seguia para o púlpito, os dois se cruzaram no corredor e tiveram um breve encontro espontâneo. Trump falou sobre o momento durante seu discurso aos 193 Estados-membros da ONU. O republicano afirmou que teve uma “ótima química” com o brasileiro e que “só faz negócios” com quem ele gosta, acrescentando que os dois terão uma reunião na próxima semana.
Em entrevista à emissora americana CNN, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, afirmou que a conversa deve ser por telefone ou videoconferência. “O presidente está muito ocupado, tem uma agenda cheia. Talvez não seja possível se encontrar pessoalmente, mas encontraremos alguma maneira”, afirmou.
Para a delegação brasileira, o gesto de Trump foi encarado como uma vitória. No entanto, há temores de que o presidente americano use a ocasião para pressionar ou mesmo humilhar Lula, como já fez com líderes europeus na Casa Branca.
Críticas a Trump
Durante seu discurso à ONU, mandou recados diretos ao governo dos Estados Unidos, apesar de não ter mencionado Trump nominalmente. Criticando o uso “medidas unilaterais”, Lula destacou que “nossa democracia e soberania são inegociáveis” e qualquer “agressão contra o poder Judiciário é inaceitável”.
As falas se dão em meio à deterioração da relação entre Lula e Trump. O republicano acusa o governo brasileiro e o Supremo Tribunal Federal (STF) de liderar uma “caça às bruxas” a Bolsonaro, recentemente condenado a 27 anos e três meses de prisão pelo envolvimento na trama golpista.
Em retaliação ao trâmite judicial envolvendo Bolsonaro, o líder americano taxou em 50% os produtos brasileiros; sancionou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e sua esposa, Viviane Barci de Moraes, através da Lei Magnitisky, usada para punir estrangeiros acusados de violações graves de direitos humanos ou de corrupção em larga escala; e cancelou o visto de vários membros do STF, com exceção de Kassio Nunes Marques e André Mendonça, indicados por Bolsonaro, bem como Luiz Fux, que votou contra a condenação do ex-presidente.
Lula também criticou “ações militares” para combater o tráfico de drogas na América Latina, em referência velada ao deslocamento de aviões e navios de guerra americanos para a costa da Venezuela. Ao menos três barcos que o governo dos Estados Unidos disseram estar carregando narcóticos foram bombardeados, resultando na morte de mais de 20 pessoas.