counter ONU declara fome em Gaza e culpa Israel, que nega classificação – Forsething

ONU declara fome em Gaza e culpa Israel, que nega classificação

Um órgão ligado às Nações Unidas declarou oficialmente nesta sexta-feira, 22, um estado de fome generalizada em Gaza, o primeiro a afetar o Oriente Médio, depois que especialistas alertaram no mês passado que um em cada três dos 2,2 milhões de habitantes do enclave passada dias sem comer. A responsabilidade pela situação foi atribuída a Israel, que descartou a nova classificação como baseada em “mentiras do Hamas”.

Após meses de alertas sobre a situação no território devastado pela guerra, a Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC), que produz o mais confiável termômetro sobre a fome, elevou sua classificação para a Fase 5 – a mais alta e grave – na Cidade de Gaza e seus arredores. O mesmo cenário deve afetar as áreas de Deir al Balah e Khan Yunis até o final de setembro.

A classificação afirma que mais de meio milhão de pessoas na Faixa de Gaza estão enfrentando condições “catastróficas” caracterizadas por “fome, miséria e morte”. Até o final de setembro, mais de 640 mil pessoas se enquadrarão neste grupo. Enquanto isso, mais 1,14 milhão de pessoas estarão em situação de emergência (Fase 4 do IPC) e outras 396 mil, em situação de crise (Fase 3). Estima-se que as condições no norte de Gaza sejam tão graves – ou piores – quanto as da Cidade de Gaza.

Escassez

O diretor de ajuda humanitária das Nações Unidas, Tom Fletcher, afirmou que a fome em Gaza “poderia ter sido evitada” sem “a obstrução sistemática de Israel”.

Israel afirmou que o relatório do IPC se baseou em “mentiras do Hamas”. A rejeição da classificação contradiz mais de 100 grupos humanitários, testemunhas no local e vários órgãos das Nações Unidas. O país continua restringindo a quantidade de ajuda que entra em Gaza e já negou anteriormente que haja fome no território.

Continua após a publicidade

Desde julho, a entrada de alimentos e suprimentos de ajuda humanitária em Gaza aumentou ligeiramente. Mas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), permanece “extremamente insuficiente, inconsistente e inacessível em comparação com a necessidade”.

Após a suspensão de um segundo cessar-fogo em fevereiro, o território chegou a ficar três meses à míngua, até que o governo de Israel decidiu, com apoio dos Estados Unidos, eleger como principal distribuidora local de comida a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma empresa americana pouco experiente que reduziu a entrega a quatro pontos (contra os 400 de antes). Isso obriga multidões a cruzar quilômetros em um esquema militarizado que, não raro, acaba em tiros. A razão para a mudança na entrega dos mantimentos teria sido motivada, conforme a versão oficial, pelos frequentes saques das cestas por parte de membros do Hamas.

Enquanto isso, aproximadamente 98% das terras agrícolas no território estão danificadas ou inacessíveis – dizimando o setor agrícola e a produção local de alimentos – e nove em cada dez pessoas foram deslocadas em série de suas casas. Os preços dos alimentos estão extremamente altos e não há combustível e água suficientes para cozinhar, além de medicamentos e suprimentos médicos.

Continua após a publicidade

Segundo o IDF, o Exército de Israel, a culpa pela baixa entrega de ajuda humanitária é de organizações internacionais que não cumprem sua missão “por falta de cooperação”. A ONU enfaticamente nega, dizendo não haver garantia mínima de segurança para a operação.

Ponto de ruptura

A declaração de um estado generalizado de fome acontece quando três limites críticos – privação extrema de alimentos, desnutrição aguda e mortes relacionadas à fome – são ultrapassados.

O acesso a alimentos em Gaza continua extremamente restrito. Em julho, o número de famílias que relataram fome muito severa dobrou em todo o território em comparação com o mês anterior, e mais que triplicou na Cidade de Gaza. Mais de uma em cada três pessoas (39%) indicou passar dias sem comer, e pais frequentemente pulam refeições para alimentar seus filhos, segundo o IPC.

Continua após a publicidade

A OMS alertou que a desnutrição entre crianças em Gaza está acelerando “a um ritmo catastrófico”. Só em julho, mais de 12 mil crianças foram identificadas como gravemente desnutridas – o maior número mensal já registrado no território e um aumento de seis vezes desde o início do ano. Quase uma em cada quatro dessas crianças sofre de desnutrição aguda grave (DAG), a forma mais letal, com impactos a curto e longo prazo.

Desde a última análise do IPC, em maio, o número de crianças em alto risco de morte por desnutrição até meados de 2026 triplicou de 14.100 para 43.400. Para mulheres grávidas e lactantes, o número estimado de casos incluídos nesse cenário também triplicou, de 17 mil para 55 mil. O impacto é visível: um em cada cinco bebês no enclave nasce prematuro ou abaixo do peso.

“Um cessar-fogo é um imperativo absoluto e moral agora”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “O mundo esperou demais, assistindo ao aumento de mortes trágicas e desnecessárias devido a essa fome provocada pela ação humana.”

Publicidade

About admin