Nos últimos anos, manchetes sobre calor extremo se tornaram comuns em várias partes do mundo e na África não é diferente. Um novo estudo da Universidade de Illinois em Chicago, publicado na Communications Earth & Environment, do grupo Nature, mostra que as ondas de calor no continente estão cada vez mais fortes, duram mais tempo e acontecem com mais frequência do que há quatro décadas.
Na prática, isso significa que regiões africanas que antes enfrentavam um episódio de calor extremo a cada cinco ou seis anos, agora vivem situações semelhantes a cada dois anos ou menos e por períodos até três vezes mais longos.
Por que isso está acontecendo?
De acordo com os pesquisadores, a principal explicação é a ação humana. O aumento das emissões de gases de efeito estufa e de carbono negro (resultante da queima de combustíveis fósseis) aquece a atmosfera e elimina um fator natural que antes ajudava a resfriar o planeta: as partículas de enxofre que refletiam a luz solar.
Segundo os cientistas, apenas cerca de 30% das ondas de calor recentes podem ser atribuídas a causas naturais, como a variabilidade climática. Há 40 anos, esse número era de 80%.
O que isso muda na vida das pessoas
O estudo alerta que a África é um dos lugares mais vulneráveis do planeta às ondas de calor. Isso porque a infraestrutura de adaptação é limitada: falta acesso generalizado a ar-condicionado, hospitais preparados e sistemas de alerta antecipado.
Na cidade de Kayes, no Mali, por exemplo, os termômetros chegaram a quase 50 °C em abril de 2024. Nessas condições, até atividades básicas se tornam um risco. Crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas são os mais afetados.
Os impactos vão além da saúde: calor extremo reduz a produtividade agrícola, encarece alimentos, aumenta o consumo de energia e pode até interromper transportes públicos. No limite, explicam os cientistas, o fenômeno pode provocar migração forçada, disputas por recursos e instabilidade social. Embora a África contribua pouco para as emissões de gases de efeito estufa, sofre de forma desproporcional com as consequências.
O grupo agora pretende investigar como o futuro das ondas de calor na África pode variar dependendo do cumprimento das metas do Acordo de Paris. Se os países conseguirem reduzir emissões, o risco pode ser limitado; caso contrário, eventos extremos se tornarão ainda mais comuns e perigosos.