Movimentos sociais estão convocando para esta quinta-feira, 10, em São Paulo, um ato em protesto contra o Centrão, a “farra” das emendas secretas no Congresso e, ainda, contra o chamado BBB — bancos, bilionários e bets –, que viraram o alvo de uma cruzada dos apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois que o parlamento derrubou o decreto do governo que reajustava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Prevista para as 18h em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo), na Avenida Paulista, a manifestação está sendo convocada pelas frentes Povo sem Medo e Brasil Popular, e tem como um dos principais apoiadores o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). “Quem vai pagar a conta no Brasil? Enquanto o povo paga imposto pra caramba, bilionário e banco não pagam nada”, disse Boulos durante reunião com militantes no último domingo, 6.
Por ora, o protesto tem sido divulgado nas redes sociais apenas por parlamentares ligados ao PSOL, principalmente, sem o apoio direto de nomes graúdos do PT.
Esse novo ato acontece na esteira de outra manifestação, realizada na última quinta-feira, 3, na sede do Itaú, em São Paulo liderada por esses mesmos movimentos, e que incomodou integrantes do governo Lula. Na ocasião, militantes da frente Povo Sem Medo e do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), ambos ligados a Boulos, invadiram um prédio do banco na avenida Faria Lima em um protesto pela taxação de “super-ricos”. Como conta o colunista de VEJA Matheus Leitão, petistas afirmaram que qualquer ato mais radical de grupos historicamente ligados à esquerda é negativo para PT e para o presidente Lula.
Na avaliação de petistas, Guilherme Boulos não ganhou a disputa por uma vaga na Esplanada dos Ministérios, como chegou a ser ventilado, e tem buscado protagonismo de alguma forma — por isso, a invasão do banco e a participação ativa nos atos da esquerda no próximo dia 10.
Nomes atuantes do PT de São Paulo, entre deputados estaduais e vereadores, que têm defendido à exaustão nas redes a pauta da taxação dos super-ricos, mote da manifestação convocada para essa semana por Boulos, não se manifestaram publicamente sobre o ato.
Neste caso, os petistas têm centrado esforços na defesa do Plebiscito Popular 2025, que defende tanto a taxação de quem recebe mais de 50.000 reais — e a isenção de tributo para quem recebe até 5.000 reais — quanto a redução da jornada de trabalho sem redução salarial, com o fim da escala 6 por 1. O plebiscito está em fase de votação popular até setembro.
Fiasco de público
O ato convocado para esta semana também tem sido visto com ressalvas pela possibilidade de um novo fiasco de público. A última manifestação da esquerda em São Paulo, realizada no final de março contra o PL da Anistia, produziu imagens que mostraram um público minguado. Segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, que é sediado na USP, o ato reuniu 6.500 pessoas.
A baixa adesão também serviu de combustível para a oposição aliada a Jair Bolsonaro, que ironizou a capacidade de mobilização da esquerda ao mesmo tempo em que o bolsonarismo tem levado públicos consideráveis à mesma Avenida Paulista. Um dos riscos da nova manifestação da esquerda é reunir público menor que o levado por Bolsonaro ao último ato na Avenida Paulista, no dia 29 de junho, um dos mais baixos já conseguidos pelo ex-presidente em manifestações no local: 12.400, segundo o mesmo Monitor do Debate Político no Meio Digital.