Gasparzinho, o fantasminha camarada, era um personagem inofensivo de desenho animado, feito para divertir crianças. Eduardo Bolsonaro, o fantasminha indigesto da Câmara, é bem diferente: não diverte ninguém, custa caro ao país e assombra a democracia.
Por muito tempo, a imagem do servidor público ficou associada à vida mansa, o paletó pendurado na cadeira enquanto se bate perna por aí. Injustiça com a imensa maioria do funcionalismo, mas uma alegoria perfeita para Eduardo.
Seu paletó está em Brasília, mas o dono se mudou para os Estados Unidos em março. Lesa-pátria e fantasma agourento, de lá dedica-se a tramar sanções contra o Brasil.
Compareceu a apenas 13 sessões neste ano, enquanto a Câmara realizou 184. Ainda assim, mantém gabinete com nove funcionários e já custou R$ 1 milhão ao contribuinte até agosto.
Para evitar a perda do mandato por faltas, o PL decidiu inovar no ridículo: Caroline de Toni renunciou à liderança da minoria e entregou o posto a Eduardo. Assim nasceu a “liderança extraterritorial”, que transforma um deputado ausente em chefe presente, um fantasma em autoridade, uma ausência em justificativa.
O roteiro, porém, é de filme B da pior categoria. Eduardo foi nomeado líder e, no mesmo dia, faltou à primeira votação, justamente a que tratava da chamada PEC da Blindagem, a proposta para limitar a atuação do STF contra parlamentares.
A blindagem do fantasma coincidiu com a blindagem dos vivos. Parece piada, mas é a rotina da Câmara.
Não há inocência nesse Gasparzinho. Eduardo é o funcionário apenas da própria família, premiado por não trabalhar e protegido por manobras que desprezam regras mínimas de decoro.
Um parlamentar eleito por 741 mil votos que se converteu em servidor fantasma de luxo, mais interessado em salvar o pai golpista e condenado do que em representar os eleitores.
Se Gasparzinho era o amigo das crianças, Eduardo é o camarada dos conchavos. Um fantasma que não diverte, não inspira e não representa.
Apenas revela até onde o Parlamento está disposto a ir para manter privilégios, mesmo que isso custe a lógica, a ética e o respeito do eleitor.