Passado o nervosismo com as decisões do Copom e do Federal Reserve — sem surpresa nos números, mas com frustração no tom — e digerido o vaivém em torno da possível candidatura de Flávio Bolsonaro, o mercado reorganizou o mapa de riscos. A política doméstica perdeu tração no curto prazo: a Selic ficou em 15%, o Fed sinalizou menos cortes à frente e o noticiário político local foi rapidamente absorvido pelos preços.
Com os juros “no preço” e a eleição ainda distante, a atenção dos investidores migrou para fora. O foco agora é o risco internacional, em especial a escalada de tensão entre Estados Unidos e Venezuela. Falas ambíguas de Donald Trump, contatos diretos com Nicolás Maduro e sinais de pressão militar no Caribe recolocaram o tema no radar. Economistas avaliam que, ao contrário do ruído político interno, esse é um risco estrutural, difícil de precificar e com potencial de contaminar bolsas, câmbio e fluxo de capitais na América Latina.
No Brasil, o presidente Lula tentou reduzir a temperatura ao afirmar que conversou com Trump e defendeu a diplomacia: “não queremos guerra na América Latina, somos uma zona de paz”. O mercado ouviu, mas manteve a cautela. A leitura é direta: política interna entrou em compasso de espera, juros já foram digeridos. O risco que sobra — e cresce — é externo. E esse, quando deixa o discurso e se aproxima do conflito, costuma cobrar prêmio alto.