Além das uvas Chardonnay e Pinot Noir, que outras coisas fazem parte da paisagem dos vinhedos da Chandon no Brasil? A resposta: graxains, gambás, ariranhas, capivaras e onças. Inclusive, as nossas queridas capivaras tão em voga atualmente, são muito bem-vindas nos vinhedos e cumprem o mesmo papel que o das ovelhas tão comuns em vinícolas com boas práticas sustentáveis pelo mundo. “As capivaras são nossas roçadeiras, alimentam-se da vegetação que nasce entre as vinhas e nos deixam de presente adubo”, explicou o chef de cave Philippe Mevel em um evento em São Paulo na semana passada, por ocasião do anúncio do Programa de Sustentabilidade e Biodiversidade da Chandon Brasil. Dessa forma, o animal faz mais uma vez jus ao nome: em bom tupi-guarani, capivara significa papa-capim.
O papel desses animais entre os vinhedos da Chandon representa um bom exemplo de como a preocupação das vinícolas com a sustentabilidade não fica hoje apenas no discurso de marketing. Há um consenso global de que para continuar produzindo uvas com qualidade, a base para bons vinhos, é preciso cuidar dos vinhedos, do solo e das pessoas que nele trabalham. Atentos a esse movimento mundial, a Chandon Brasil reforçou no evento o compromisso de preservar meio ambiente, regenerar os solos e, assim, fortalecer os vínculos com a comunidade. “Ser sustentável é devolver à natureza o que ela generosamente nos oferece”, disse na abertura do encontro Catherine Petit, diretora geral da Moet-Henessy no Brasil.
Hoje a marca Chandon tem o maior vinhedo de espumantes do mundo, se somadas as suas seis propriedades: Argentina, Califórnia, Brasil, Austrália, China e Índia. “E o trabalho feito em Encruzilhada do Sul, no Rio Grande do Sul, desde os anos 1990 pelo chef de cave Philippe Mevel, um francês tropicalizado, tem enchido os olhos, entramos no radar do grupo LVMH”, contou Catharine.
De fato, é possível imaginar os franceses encantados com imagens apresentadas por câmeras ocultas dos corredores biológicos, que representam 36% do total da área da vinícola, repletas de capivaras e outros bichos. Os estrangeiros também costumam ficar surpresos com as condições em que os espumantes são produzidos por aqui. Recentemente, o enólogo responsável pela Chandon Índia, Kaushal Khainar esteve no Brasil e ficou perplexo com o clima. “Ele disse que aqui temos monções permanentes”, contou Philippe, referindo-se às volumosas chuvas que acontecem duas vezes por ano naquele país e que são imprescindíveis para agricultura, mas que também causam problemas, como inundações.
No caso dos vinhedos, a quantidade de água no Sul do Brasil sempre foi um desafio, afastando a região do cultivo orgânico. Sem os venenos, muitos acreditavam, seria impossível controlar a umidade, responsável por trazer muito fungos e doenças para as plantas. A Chandon Brasil adotou um caminho diferente a partir de 2020, com a chamada agricultura integrada, um meio do caminho entre a convencional e a orgânica. Isso levou à pratica de zero herbicidas e ao controle de doenças feito com ferramentas de precisão — ou seja, nada de nuvem de pesticidas voando campo afora. “Se o problema está nas folhas, é ali que será tratado. Assim cuidamos do solo e das pessoas que trabalham para nós”, explicou Philippe. As 80 famílias de viticultores que vendem suas uvas para Chandon Brasil também participam do projeto e recebem bônus pela qualidade do produto que entregam. Com todas essas ações, a meta é que, até 2028, eles estejam 100% trabalhando num sistema de agricultura regenerativa que, além de tratar, recupera o solo e meio-ambiente.
Na taça, vamos ao que importa, dois produtos me chamaram muita atenção e trazem muito desse trabalho. O primeiro é um Blanc de Blanc feito 100% com a uva Riesling Itálico, casta bastante usada na região, em homenagem à comunidade de Monte Belo do Sul. O segundo é o Névoa das Encantadas. Trata-se de um 100% Chardonnay, proveniente desse trabalho sustentável feito nos vinhedos brasileiros. Não é um Chandon clássico, ele representa aquele terroir que amanhece coberto por uma neblina que se dissipa ao longo do dia. “Decidimos ousar mais na vinificação optando por não intervir, não usar os aditivos habituais e engarrafar sem filtração, respeitando desta forma o caráter natural da uva. A leve turvação remanescente que nos remete às névoas que costumam aparecer no amanhecer neste vinhedo deu origem ao nome deste espumante”, contou Philippe. O resultado é uma bebida levemente cremosa, com aromas de pera, muito fácil de beber.
Ambos os produtos estão à venda apenas na vinícola, em Garibaldi. Eu aprovei. As capivaras, também.