O rali da Bolsa brasileira tem animado investidores e alimentado narrativas otimistas, mas segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, é preciso separar entusiasmo de realidade. A valorização recente do Ibovespa — que se aproximou dos 160 mil pontos — tem fundamentos, sim, mas não é resultado de entrada de capital novo. “A alta faz sentido, mas está dentro do script. É macroeconomia básica: dividendos, projeções de lucro, valor justo das empresas”, afirma Sanchez.
Na prática, o dinheiro estrangeiro que ajudou a impulsionar o índice não veio de fora. Já estava no país, aplicado em renda fixa, e apenas migrou para ações após o vencimento dos papéis. Ou seja, não houve aporte adicional. Em termos líquidos, o fluxo segue negativo: mais de US$ 50 bilhões deixaram o Brasil nos últimos 12 meses, e as remessas acumuladas ultrapassam US$ 80 bilhões no mesmo período.
Enquanto isso, países como Colômbia e Argentina têm recebido capital estrangeiro de fato — seja por alinhamento político, oportunidades geopolíticas ou simples conveniência internacional. O Brasil, apesar do desempenho da Bolsa, ainda não conseguiu reverter a tendência de saída de recursos.
Ontem, o Ibovespa recuou 0,3%, encerrando o pregão aos 157.162,43 pontos, na segunda queda consecutiva. O movimento reforça a leitura de que, sem fluxo novo, o mercado depende cada vez mais dos próprios fundamentos para sustentar a trajetória de alta.