Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, refletiu sobre os insultos recebidos por parte de parlamentares durante audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, no começo de julho. Em recente participação na Flip, Marina recordou os episódios:
“Minha primeira resistência é não usar as mesmas armas. É como os exercícios dos nossos amigos orientais, o Tai-chi-chuan nos ajuda um pouco. Já pratiquei, agora não tenho tanto tempo. Mas funciona. Segunda resistência, imaginar que não é uma resposta individual a você. Naquele dia que teve a agressão no Senado, depois se repetiu na Câmara, foi interessante porque, quando saí dali, eu tinha uma audiência com o presidente da Câmara, Hugo Motta, que era para pedir um tempo maior para votação do PL do licenciamento. Então saí dali, falei com a imprensa e marchei na direção da audiência com o presidente Hugo Motta. Meus colegas parlamentares que foram me acompanhar na audiência, eles ainda não sabiam o que tinha acontecido no Senado. E eu: ‘poxa vida, não ganhei nem um abraço de apoio’. Depois descobriram e vieram falar: ‘Marina, não acredito que aconteceu com você’. A resistência, essa reorganização, é também coletiva. A gente precisa cultivar esse lugar de heteroestima. (…) Aprendi que não temos autoestima, temos heteroestima, que é da diversidade, do encontro de falas, de olhares, da polifonia na diferença que a gente se sustenta. Por ter recebido uma onda de solidariedade em seguida, isso ajudou a me reorganizar. O que estava sendo atacado ali era por ser mulher, era por ser preta, por ter origem humilde, por defender uma causa que é do bem de todos”.
O deputado Evair de Melo (PP), da bancada ruralista, comparou a ministra com grupos armados, como as Farc da Colômbia e o Hamas, na Faixa de Gaza. E voltou a associar a ministra com o câncer, repetindo declaração feita anteriormente. “Um dia, eu fiz uma citação aqui comparando com um câncer. E eu pedi desculpas depois, porque o câncer muitas vezes tem cura. E esse viés ideológico construído nesse movimento conspiratório tem se mostrado aplicado nesse momento”, atacou o deputado. Em outro momento, durante uma fala mais inflamada da ministra em defesa das ações do governo, o deputado Cabo Gilberto (PL) pediu calma à ministra, uma postura que ela rebateu como machista, já que a ênfase verbal do discurso dos homens não foi criticada.